quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

A Enciclopédia da Música Clássica, vol. 4: NRA & Paisley

Já está disponível o 4º volume da Enciclopédia da Música Clássica! Despois do nº 1, sobre as origes da música culta contemporánea (Sex Pistols e demais...), do nº 2, sobre a New Wave, e do nº -1, sobre o rock psicodélico de finais do '60... já podedes disfrutar com o melhor resumo possível do período que vai desde 1982 a 1988. Isso si, unica e exclusivamente ides atopar o que se deu em chamar Novo Rock Americano (NRA) e os grupos neopsicodélicos da escena Paisley Underground. Que nom vos ubicades demasiado? No problemo, para isso estamos em Arbolícia. Marchando umha lecçom resumida de musicologia oitenteira (recomenda-se baixar primeiro o arquivo, descomprimi-lo, e escoitar mentres vos culturizades):


REM: Que se vai dizer deles que nom estea dito já. Os de Athens estavam no ano 1984 em plena forma e faziam jóias como este “Harborcoat” (do LP Reckoning), que nom precisou ser single para virar clássico.


Guadalcanal Diary: Uns dos que nom tivérom éxito e ficárom como banda de culto. Aínda que na cançom aquí incluída (do disco Walking in the shadow of the big man) parezam copiar a REM, o certo é que a sua música era variada e sorprendente como poucas. A descubrir, absolutamente.



Winter Hours: e se de Guadalcanal Diary aínda haverá quem se lembre, de Winter Hours já é mais difícil. Eram uns segundons, pero tamém capazes de fazer algumha que outra marabilha como este “Wait till the morning”, tirada do disco homónimo (1986) que compilava vários EP’s.


Feelies: Grupo peculiar, começaram no ano 1980 com um disco de corte post-punk minimalista, estilo Velvet Underground. Tardárom 6 anos em sacar a continuaçom, The Good Earth, produzido por Peter Buck e com um aire diferente, de onde extraemos este “The high road”.


Green On Red: Os de Chris Cacavas ficam como um dos grupos mais carácterísticos do Novo Rock Americano (NRA) de mediados dos ’80. Gravity talks foi o seu primeiro LP, publicado em 1983 despois de sacar um par de EP’s.



Flying Color: Outros dos que caerom no esquecemento generalizado, mália ser umha máquina de facturar pequenos himnos de pop guitarreiro, especiais para dias de chúvia. Quem o duvide faria bem em escoitar o seu disco homónimo, que incluía entre outros o pequeno hit “Dear Friend”.



True West: A banda dum mítico do rock americano como Russ Tolman sacou dous mini-LP’s no 1984 e nos dous incluía o seu tema mais característico, “And then the rain”, se bem era moito melhor versiom a do disco Hollywood Holiday, que por suposto é a incluída nesta compilaçom.




The Silos: O bom de Walter Salas-Humara segue a sacar discos a dia de hoje. Quando debutou, no ano 1986, com o LP About her steps, fazia um rock moi do estilo da época. Logo evoluiu, e paga a pena escoitar tamém o seu trabalho posterior, que tem sempre o seu toque persoal.



Thin White Rope: A tia que os contratou admitiu que, para que a discográfica aceptara ficha-los, os colou como pertencentes à daquela puxante escena Paisley Undergroud, com a que tinham pouco que ver: o seu nom era a psicodélia lánguida senom o rock desértico, como o que se pode desfrutar no seu LP Exploring the axis de 1985.



Long Ryders: Grupo paradigmático do lado mais próximo às raízes, mesmo ponhiam sombreiros vaqueiros sem vergonha! Venerados polo Ruta 66, a sua obra mestra é o dico Native Sons de 1984, pero a cançom incluída aqui provém do mini-LP 10-5-60, publicado o ano anterior.




The Replacements: De Minneapolis, a banda de Paul Westerberg (um dos grupos favoritos de Tom Waits nos ‘80) nom era facilmente reducíveis a umha etiqueta. No seu LP Let it be (1984) colaborava, como nom, Peter “estou-em-todas-partes” Buck.


Violent Femmes: E se os anteriores eram inclassificáveis, que dizer deste trio punk/folk de Milwaukee. Capitaneados por Gordon Gano, o seu debut Violent Femmes (1983) é umha autêntica marabilha com tralhazos acústicos como este “Blister in the sun”.




The Steppes: É de sobras conhecida a minha debilidade por estes americano-irlandeses que, liderados polos irmãos Fallon, acadárom as mais altas cotas do folk-rock psiquedélico... sem que ninguém se enterara. “Tourists from timenotyet”, do LP Stewdio (1988), foi a sua melhor aproximaçom a um single de pop perfecto.



Dream Syndicate: A banda primigênia do –a estas alturas- patriarca do rock americano Steve Wynn publicou em 1982 The days of Wine and Roses, o disco que deu o pistoletazo de saída a toda a escena Paisley Underground, radicada em Los Ángeles.




The Rain Parade: O seu Emergency Third Rail Power Trip (1983) está considerado por moitos (entre os que me incluo) umha das obras mais perfectas do pop/rock dos anos ’80. Lisérgica até dizer basta, inclúe melodias que fariam palidecer de enveja a The Byrds. “What she’s done to your mind” é o melhor exemplo do que sabia fazer David Roback antes de Opal e Mazzy Star.



The Three O’Clock: Vezinhos dos grupos anteriores, os seus primeiros discos –como o Baroque Hoedown de 1982, de onde sacamos este “I go wild”- conjugavam psicodélia e energia guitarreira. Posteriormente fôrom caendo no pasteleo-com-teclados tam próprio da época. Por certo que ao começo se chamavam Salvation Army, até que a organizaçom do mesmo nome os fijo mudar.



The Bangles: Si, som elas, as mesmas dos mega-éxitos “Walk like an Egyptian” ou “Manic Monday”. Antes de passar-se ao rolho Prince faziam parte da escena Paisley, e versioneárom o “Going down to Liverpool” que publicaram o ano anterior Katrina & the Waves (si, os de “Walking on sunshine”, mas tamém a banda do ex-Soft Boy Kimberley Rew). Incluído em All over the place (1984).



Game Theory: A banda de Scott Miller eram dos mais popeiros do Paisley Underground. Chegárom a completar obras mestras como Big Shot Chronicles (1986) ou o Lolita Nation (1987), onde se pode atopar esta marabilha titulada “Chardonnay”.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Instrucções para habitar o mundo

Em Arbolícia está moi estendida a admiraçom por Miguel Brieva, um ser pensante que tem como hobby fazer pensar a outros seres mediante a noble arte da ilustraçom. El corresponde a esta admiraçom regalando-nos reflexões como a seguinte (pinchar na image para ver ampliada).


terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

A natureza da mente consciente

Este artigo de Ignacio Morgado Bernal (catedrático de Psicobiologia da UAB), que foi publicado no jornal espanhol El País o passado 9 de fevereiro, reflicte moi bem algumhas das teimas que me rondam ultimamente pola cabeça. De jeito para mim sorprendente, o autor nom parece conceder um grande valor ao hipotético achádego da “fórmula” que explique o fenómeno da consciência. Por umha banda, devido a que provavelmente a nossa mente nom estea preparada para entender essa explicaçom, polo menos no seu estado evolutivo actual. Mas tamém vem dizer que, mesmo se o entendéssemos, e déssemos com os “algoritmos” (ou o que fosse) que a produzem, isto teria pouca importância. Nom coincido em absoluto com esta interpretaçom: desde o punto de vista dum engenheiro de sistemas, a possibilidade de estudar a consciência deste jeito seria algo absolutamente revolucionário. Sem ir mais longe, porque possibelmente seria reproduzível. A dia de hoje sabemos como criar redes neuronais artificiais que emulam o comportamento do cerebro. Se, ademais, fossemos capazes de criar consciência (ou replicá-la, ou armazená-la) a conseqüência seria o maior câmbio de paradigma da história do pensamento. Pensemos por exemplo na possibilidade de “migrar” a consciência dum sistema natural –o nosso cerebro- a outro artificial criado por nós. Nesse caso o nosso Eu deixaria de estar confinado no nosso corpo, finito e com data de caducidade, e existiria quando menos a possibilidade teórica da inmortalidade ou da ubicuidade. Ciência ficçom, a dia de hoje. Mas num futuro, quem sabe... é este o destino natural da humanidade? É jogar a ser deus? Estamos predestinados para isso? Ou som simples palhas mentais? A minha resposta a todas estas preguntas é SI, mália serem aparentemente excluíntes entre si. Mas quizais deveriamos resucitar a Philip K. Dick e preguntar-lho...
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NOTA: no artigo, os comentários em cursiva som meus.
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O cerebro dota-nos aos humanos de poderosas sensações e percepções. Se abrimos os olhos um dia soleado sentimos que toda a paisage que contemplamos está chea de luz. O olor do almorço matinal parece-nos que está aí fóra, saíndo da cunca de café quente. Mas o certo é que essa luz e esse olor só existem na nossa mente, pois som o modo em que o cerebro fai que percibamos as diferentes formas de energia que circundam o nosso entorno. Fóra de nós nom hai luz, só energia electromagnética; nem olor, só partículas volátiles. É dizer, o cerebro crea a mente e fai-nos percibir o que acontece fóra e dentro do nosso corpo dum modo especial que nom tem por que coincidir com a realidade mesma. Esse modo especial nom é outra cousa que a consciência e os seus contidos, um fenómeno que ademais de dar sentido à nossa vida aporta flexibilidade ao comportamento e converte-nos em seres verdadeiramente inteligentes.

Se cavilamos sobre elo nestas páginas é porque moitos científicos acreditam que a natureza da consciência é o principal problema que a moderna biologia tem aínda que resolver [eu tamém]. Trata-se na realidade dum problema moi especial que nem sequera sabemos moi bem como considerar e investigar. Abundam, nom obstante, as reflexiões sobre o mesmo e os trabalhos de investigaçom que tentam aborda-lo desde algumha perspectiva particular. Recentemente, no Instituto Tecnológico de California (Pasadena, USA), eu mesmo participei em experimentos para conhecer mediante resonância magnética funcional as partes do cerebro activadas a depender de se os sujeitos percibiram ou nom conscientemente estímulos luminosos apresentados brevemente nalgum dos seus olhos.

O que acontece é que o problema da consciência nom se esgota nem moito menos no conhecemento dos circuítos e a actividade cerebrais que a fam possível. O que quizais mais nos intriga é conhecer como essa actividade cerebral gera o estado consciente, é dizer, como tem lugar a emergência ou câmbio qualitativo que convirte a actividade do cerebro em percepções conscientes tam específicas e genuínas como a doçura do doce, o azul do azul, a dor do doroso, é dizer, como som possíveis as diversas experiências conscientes que invadem a nossa mente, sejam em forma de sensações, motivações, sentimentos, lembranças e ilusões, ou seja, o que os filósofos chamam qualia.
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Mas, ao preguntarmo-nos sobre como a actividade cerebral gera a experiência consciente, que tipo de resposta estamos a buscar? Tente o leitor pensar e respostar: como entender o câmbio qualitativo do fenómeno fisiológico ao fenómeno mental? Que podemos agardar para explicar o fenómeno psíquico da consciência? Acaso algoritmos informáticos ou fisiológicos?
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Conformariamo-nos com umha fórmula matemática, novas partículas físicas ou umha forma de energia até agora desconhecida? [desde logo, eu conformaria-me com qualquera dessas possibilidades] Em realidade, sendo a consciência um fenómeno tam genuíno e especial, talvez antes que nada devamos preguntar-nos se pode existir algum tipo de explicaçom inteligível sobre a sua natureza capaz de satirfazer plenamente o nosso interesse científico. O própio Nobel Francis Crick colocava essa mesma questom deste modo: podem os qualia ser explicados polo que conhecemos da ciência moderna? Persoalmente, eu duvido de que saibamos o que estamos buscando quando estudamos a natureza íntima da consciência. Creo, em realidade, que nom o sabemos.

Quando tentamos explicá-lo podemos dizer que falar da consciência é como falar da relaçom entre o cerebro e a mente e, nesse sentido, umha das metáforas mais utilizadas é a que afirma que do mesmo jeito que a temperatura nom é mais que a cinética ou velocidade de movemento das partículas que integram um corpo, a consciência deveria ser o mesmo que a actividade fisiológica cerebral que a fai possível, e punto. É dizer, o mesmo visto dende outra perspectiva. Mas nom resulta doado conformar-se com essa explicaçom, porque aínda que a temperatura que avalia um termómetro seja simplemente umha maneira macroscópica de observar o movemento das partículas, o cerebro, a diferença do termómetro, nom só avalia, senom que convirte o resultado da avaliaçom numha nova experiência moi especial que chamamos calor. Podemos dizer entom que a calor nom é outra cousa que o modo que tem o nosso cerebro de decatar-se do movemento das partículas dum corpo, mas seguimos sem explicar a especificidade da experiência consciente que fai possível essa particular percepçom. Qualquera outra metáfora poderia remitir-nos à própia consciência sem explicar-nos a sua natureza.

Hai entom umha soluçom possível para o problema da consicência? Eu penso que actualmente nom o hai [e seguramente seja certo, actualmente], e tentarei explicar por que mediante umha metáfora. Para preparar umha comida saborosa precisamos dumha boa receita, ajeitados ingredientes e conhecer a correcta sequência e temporalidade para cozinhá-los. Mas, acaso aportaria algo ao resultado final o conhecer como a combinaçom de ingredientes e o cozinhado originam o bom sabor do produto final? [possivelmente] Poderia esse conhecemento melhorar o resultado? [por que nom?] Aportaria ao cozinhado algumha vantage, propiedade ou utilidade práctica? Provavelmente nom [provavelmente SI, diria eu]. É dizer, em princípio, parece mais relevante e necessário conhecer os ingredientes e a mestura precisa que fam possível um sabor que determinar a natureza do própio sabor como fenómeno mental consciente. Pois do mesmo jeito coido que, aínda que puidéssemos conceber e mesmo conhecer algumha explicaçom convincente sobre como a fisiologia inconsciente se converte em psique consciente e em que consiste esta última, esse conhecemento nom serviria para nada mais que para satisfacer a nossa curiosidade científica, sem aportar nengumha vantage práctica.

E essa é para mim a clave dado que, ao longo da evoluçom, a selecçom natural promove unicamente cousas úteis [dacordo, mas o significado de "útil" pode tamém evoluir]. Desse modo, aínda que conhecer os mecanismos naturais que fam possível a consciência é algo que podemos alcançar cientificamente e que terá sem dúvida consequências prácticas na clínica o a educaçom, conhecer a natureza íntima da subjectividade, aparte de satisfazer, como dizemos, a nossa curiosidade científica, seria de pouca ou nula utilidade, e quizais essa é a razom pola que a selecçom natural pode nom ter promovido o desenvolvemento suficiente do cerebro humano que faga possível a compreensom da natureza da consciência.

A mente consciente foi promovida pola selecçom natural em resposta aos câmbios e desafios que se produzírom ao longo da evoluçom no entorno dos animais, como um médio para adaptar-se a eles. É dizer, para sobreviver os animais tivérom que desenvolver flexibilidade mental e condutual, o que proporciona a consciência. A nossa capazidade cerebral para entender a natureza da mente consciente evoluirá quando novas condições ambientais fagam verdadeiramente necessário este entendemento [efectivamente, aínda que estas condições podem nom ser tam só ambientais, ou seja externas, senom internas, derivadas da vontade do género humano], aínda que tamém é possível que entom surjam novas e difíceis questões que serám o preço dessa promoçom.
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