segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Giant Sand (Salesianos, 23 de janeiro)


"Hello, I'm not Johnny Cash"

Com esta frase começou uma velada inusual: Giant Sand, veteranos do rock americano dos '80, tocando o mítico "Live at San Quentin", o segundo dos discos gravados ao-vivo-no-cárcere polo único e inimitável Johnny Cash.

Dado o meu fanatismo polo home de negro, o glorioso do repertório e a solvência dos intérpretes, a cousa pintava bem. Mas, incomprensivelmente, resultou um concerto falhido. A banda saiu desacoplada e não foi quem de remontar o voo em todo o show; bom, polo menos não foi capaz Howe Gelb. O frontman parecia não saber as canções, ou querer cambiá-las sem o apoio da banda. Entrava tarde, cantava baixinho...

De nada serviu que repetisse os comentários originais de Johnny Cash, como o de que estavam ali para fazer o que a eles e ao público lhes apetecia, e não a seguir o que lhes dizia a discográfica. Tampouco que uma pantalha detrás do escenário mostrasse imagens dum concerto de Cash (não o que se conmemorava, por certo). Salvo em contadas ocasiões (quiçais em "San Quentin", por exemplo, ou em "A boy named Sue"... pero não), a energia que desprende o disco original brilhou pola sua ausência.

Houvo vários bises, mas aquilo não tinha remédio. Despois duma pobre versão de "Jackson", a dobre de June Carter Cash sacou ao Gelb do escenário colhendo-o do braço. Parecia dizer-lhe "não volves tomar um tripi antes de sair a tocar". Quando deixárom sós aos músicos, estes dérom o melhor de si, deixando claro que a culpa não era deles. Mas durou pouco. E por se quedava alguma dúvida, antes de prender as luzes puxérom um vídeo, com som incluído, duma actuação de Cash e companhia... a pesares de ser um dos seus números de temática religiosa e ar algo cursi, as comparações fôrom odiosas.

P.S. Que conste que mal não o passamos: foi breve (menos de hora e média), barato (10€), cómodo (sentados), a 100 metros de casa, e o repertório era dificilmente insuperável... mas desde logo, si que foi manifestamente melhorável. Queda-me a curiosidade de saber o que farão nos restantes concertos da gira...

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Dodos (MARCO, 17-12-09)



Moi altas estavam as expectativas para este concerto, que fechava o ciclo de inverno do festival Sinsal. Uma razão óbvia era o interessante da proposta do trio de San Francisco, em opinião generalizada um dos mais destacados da fornada weird folk. Ainda mais, esta consideração não se baseava só nos seus trabalhos de estudo, discos tão estupendos como o “Visiter” (2008) ou o recente “Time to die”; senão que também os seus diretos eram louvados pola sua excelência e originalidade. Todo isto foi demostrado sobradamente: não só não saímos defraudados, senão com o convencimento de atoparmo-nos ante um grupo de calibre maior do que pensávamos.

Trata-se de um trio atípico, no que o peso é levado por Meric Long (voz e guitarra) e Logan Kroeber (percussão). O terceiro elemento, Keaton Snyder, uniu-se recentemente ao grupo e tem um papel secundário, ocupando-se do vibráfono e outros instrumentos (mas não do baixo como seria lógico). O mais característico são os nunca óbvios ritmos impostos polo bateria, um autêntico animal (por vezes parece estar escoitando não um, senão vários). A originalidade do grupo vem determinada em boa medida por esse entramado, mas isso não quer dizer que a labor do Meric Long seja menos importante: é quem compom as canções e as defende cantando, e com que voz! A dizer verdade, nada se lhes pudo reprochar a nengum dos integrantes em quanto à execução, absolutamente impecável. E, apesar do pouco apropriado do local (uma sala do museu de arte contemporânea, habitualmente adicada a projeções fílmicas), o som foi igualmente sobressaliente (esse bater dos tambores!).

Mas, evidentemente, não são os detalhes técnicos os que decidem um juízo favorável, senão o talento. E os Dodos disso tenhem um lote, como demostram em canções como “Fools”, “Winter”, “Red and Purple” ou “Fables”. Se nos ponhemos a buscar-lhes parecidos, poderia atopar-se-lhes alguns com outros dous grupos cujos concertos foram resenhados aqui este mesmo ano: quando se ponhem mais folkies podem lembrar a Akron/Family, e quando desatam a tolémia sónica tenhem um ar a Animal Collective... mas, em realidade, não se asemelham a ninguém mais: ainda que seja um tópico, são únicos. Entregados e inspirados, rematárom justo a tempo de evitar que o suor nos derrotasse. Vencérom e convencérom, até o ponto de animar-me a comprar à saída o seu vinilo de debut, o “Beware of the maniacs” (2006).

P.S. Não podo rematar a crônica sem comentar que os de Sinsal tivérom para o meu gusto uma cagada na escolha do artista convidado, que fôrom (o nome soubemo-lo a posteriori, pois chegamos uns minutos tarde) uns tales Diadermin. Três aficionados no pior sentido da palavra (a Dee Dee Ramone ponho por testigo de que não me molesta o amateurismo, mas isto foi demasiado), petardeando ao estilo de, ehm, Fabio MacNamara. Na web de Sinsal recolhem-se críticas em diversos médios nas que são comparados com Violent Femmes, Yo la Tengo, Talking Heads, Kraftwerk ou Gang Of Four. Permitam que me ria. Se polo menos tivera havido uma barra onde se refugiar, poderia ter tido certa graça... mas não foi o caso, e os seus rípios (“mi robot me quiere más que tu, voy a besar a mi CPU”) nos perseguiriam até despois de rematar o concerto de The Dodos. Não foi culpa sua, todos os grupos são principiantes alguma vez; mas si que foi dos que lhes brindárom a oportunidade. Uma mágoa!