terça-feira, 28 de abril de 2009

Images da primavera em Novánglia (I)

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Patti Smith estaria orgulhosa da MIT Crew
Every night before I rest my head
See those dollar bills go swirling 'round my bed...
(Pintada na ponte do trem, a carom da minha rési)
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Boston desde a minha rési
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A tropa do Garden, cabreada

Estes dias, ao sair de casa, atopo-me com esta orgia de flores à beira do rio Charles

Stata Center, o mais estrafalário edifício da Universidade de Miskatonic: aqui tem o despacho Chomsky (oficina 32-D840)...

... mentres que o meu lab (3-143) está na mais sóbria e emblemática Killian Court (concretamente à esquerda)

domingo, 19 de abril de 2009

Noite de Garage no Middle East!

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The Fleshtones: grandes, enormes...

Para a minha primeira noite de concertos em Novánglia, nada melhor que acudir ao que os leitores de The Boston Phoenix consideram a melhor sala de rock de Boston e arredores: o Middle East. Cómpre sinalar que fôrom vencedores também nas categorias de "melhor local de Hip Hop", "melhor cozinha oriental" (!), e "porteiros mais tatuados" (!!). E é que é um sítio bem curioso, se o vemos com olhos europeus: conta com espaços que funcionam como restaurante, bar, e local de concertos (com 2 ambientes diferentes). Não é que lhe pense sacar moito partido ao do restaurante (é caro de mais para cear ali por sistema de passo que vas ver um concerto; melhor uma hamburguesa no Wendy's que está ao lado), mas si que lho penso sacar à sala de concertos, pois ademais de ter uma variada e selecta programação, está a apenas 15 minutos andando da minha casa.
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Assi que ali fum onte, sábado 18 de abril, disposto a desfrutar duma boa ração de garage-rock cozinhada por The Coffin Lids, The Nouvellas, The Lyres e The Fleshtones. Si, lestes bem: os Lyres e os Fleshtones, duma tacada...! e todo por tão só $10!! Não me explico como o sítio não se encheu (e isso que o cenário Upstairs é um simple tugúrio, nom mais grande do que a Fábrica de Chocolate -para que me entendam os de Vigo- ou o Mardi Gras -para os da Crunha), e é que não eramos ali mais de 100 persoas (!)... o único, que o público local esteja farto já de ver a estes grupos, que seguramente tenhem tocado dúzias de vezes por aqui. Por certo, não se podia fumar, e ainda assi os menores de 18 não podiam entrar -será por medo a que o rock'n'roll pervirta os rapazes? Manda caralho! Enfim, imos ao que nos importa:

9.15 p.m. THE COFFIN LIDS

Abrírom fogo os Coffin Lids, uma banda local que se define como "sour mash garage trash", mas que poderiamos catalogar mais brevemente como punkabilly. Velocidade, guitarras tocadas à altura dos jeonlhos e amplo surtido de tatuages. Nada do outro mundo, mas cumprírom com a sua função, que era fazer-nos entrar em calor.

10.15 p.m. THE NOUVELLAS

Mais interessantes resultárom The Nouvellas, banda neoiorquina que dava o seu primeiro concerto fora da Grande Maçã e que poderia chegar a dar que falar. Tocam um rock retro com aires soul/funk e tenhem boas canções, como o seu single "Satisfied": vede o vídeo e já me diredes se não deveria ser um pequeno hit... especialmente se estivéssemos em 1973. E o de ter como vocalistas a duas rapazinhas dá-lhes um toque diferente (para bem).

11.15 p.m. THE LYRES

Até o de agora todo bem, mas não era para isto que vinhera... eu queria ver umas lendas vivas do garage em acção! Afortunadamente, não tivem queixa.
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"We're the Lyres and we don't mind if we're ahead of our time, we're gonna start playing now!"

Com essa frase deu ordem de começar o concerto Jeff "Monoman" Conolly, o legendário lider de The Lyres. Não se referia a que estes ilustres bostonianos sejam pioneiros em nada musicalmente falando, que é todo o contrário. Singelamente, começárom a tocar 5 minutos antes do horário pre-estabelecido! E é que polo visto a puntualidade aqui chega a estremos enfermiços, superando à do Vera... Enfim, se alguém chegou tarde, má sorte para el, porque se perdeu o melhor do concerto: um começo apabulhante com "Don't give it up now", a peça com a que se abria a sua obra mestra, o LP "On Fyre" (1984), convertida no hino desta banda.

Não é que o show decaísse de aí em adiante; em absoluto. A magnética presença de Jeff, parapetado detrás dum órgano posto em primeirísimo plano, chega e sobra para encher o escenário: que cacho frontman! Vacilando todo o tempo entre canção e canção, mas sem chegar a esboçar nem médio sorriso, ponhendo e quitando os lentes de sol, preguntando-lhes aos músicos o que queriam tocar... mas isso por suposto não é o principal, senão o domínio que tem este grupo dos códigos do rock'n'roll, algo do que podem dar uma autêntica lição. Até o ponto de que, quando o concerto tocava ao seu fim, eu estava a piques de coroá-los de forma antecipada como vencedores da noite e preguntava-me se The Fleshtones seriam capazes de chegar à sua altura. Coitado de mim...

12.15 a.m. THE FLESHTONES


Senhoras e senhores, se estão sentados ponham-se em pé. Um respeito, porque isto são palavras maiores: "The Fleshtones! Real live rock'n'roll... in person!!" Isto, ou algo parecido, é o que berrava Peter Zaremba a duas quartas da minha cara, a pouco de começar o concerto, misturado já entre o público. Com efeito, nunca mais sentido cobrou a expressom "in person". The Fleshtones já começam o show quase pendurados sobre as primeiras filas, falam de ti a ti com o público, abraçam-se a eles, baixam um micro do escenário e deixa-no ali para que a gente faga os coros, componhem toda classe de coreografias, dam patadas ao ar... e todo isto sem deixar de produzir um remuínho de r'n'r capaz de pôr a bailar a todos os que ficárom estáticos durante os concertos anteriores.
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Que almorçarão estes tios? Zaremba tem 55 anos, mas quem me dera estar assi quando cumpra os 40! Juro que num momento dado chegou a ponher-se a fazer flexões no meio do público (lembrai que a banda nom para de tocar nunca)... mas se o pensas é normal: este tio está posuido, é incapaz de estar parado, e de algum jeito tem que soltar a energia que lhe sobra. Terá algo que ver o de ser de Queens, como os Ramones? Algo deveu passar por ali a mediados dos '70...

Que tal se lhe pedimos a Jeff, dos Lyres, que suba a tocar o órgano com nós? E Jeff sobe, claro. Que tal se fazemos a pirámide, com Keith Streng subido em riba de Zaremba e Ken Fox (ver foto em baixo)?



Que tal se colhemos todos os instrumentos, bombo incluido, e percorremos o garito a ver que atopamos? (os que não estivestes ali, podedes alviscar algo parecido neste video de "I'm not a sissie anymore" -por certo, vaia temazo- a partires do 1:40, mália que com bastante má qualidade de som. Para algo mais parecido em intensidade ao que estes são capazes de fazer, ver este outro, sem desperdício -deve ser de hai mais de 25 anos, mas os pavos seguem igual, devérom beber o mesmo elixir que Iggy Pop).



Enfim, obrigado, Peter Zaremba, por lembrar-nos que estamos, como ti dis, em "the hidden capital of rock'n'roll, Boston Massachusetts", e por fazer-no-lo crer (quem nom o creria, vivindo o que se estava a viver ali)? A questão é que a capital do r'n'r, amigos, é qualquer garito onde toquem The Fleshtones. Isto é o que vim, e nom podo mentir. O ano passado Man Man, The Mars Volta e Gogol Bordello subírom ao meu pódio de concertos em Arbolícia. Este ano o listão não vai baixar, está claro...

sábado, 11 de abril de 2009

Miaoqi Zhu

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Se o ano passado vivim a primavera em Planícia, este ano fago-o em Novánglia; mais ou menos na mesma latitude, mas com um océano em meio. Esta é uma terra a um tempo céltica e ameríndia, onde o vento é especialmente frio e a cerveja excelente -mágoa que não se poda comprar nos supermercados. A gente, porém, é como em todas partes: é também gente de Arbolícia. Como Miaoqi Zhu.
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Miaoqi Zhu não vive em Novánglia, senão em Indiánia, mas estivo por aqui assistindo a um congresso. Como el e um dos meus companheiros de apartamento eram amigos dende nenos, estivo uns dias vivindo connosco, e assi é como o conhecim. El tinha mais tempo livre que os meus companheiros e era simpático e sociável. E eu havia apenas uns dias que chegara, e não tinha ninguém com quem passar o tempo, assi que uma noite fomos cear os dous juntos. El queria ir a um restaurante chinês, mas não atopavamos nengum e na rua ia frio, assi que nos demos por vencidos e entramos num hindú, onde tirei esta foto.

Miaoqi Zhu nasceu e criou-se em Hefei, na China. Estudou psicologia ali, e hai dous anos cruzou o oceano para se estabeler nesta terra. Fala o inglês bastante bem, melhor do que a maioria dos seus compatriotas, mas ainda comete o clássico erro por querer ser correcto de mais: consciente do difícil que lhe resulta o "r", por vezes pronuncia-o mesmo quando deveria pronunciar "l".

Na sua cidade natal hai várias universidades, entre elas uma das mais prestigiosas da China. El pensa que a causa disso, por terem os seus vezinhos muitas oportunidades de aprender, estão mal acostumados e são preguiceiros. El não o é. Está decidido a trabalhar e sair adiante. Tivo sorte, não todos tivérom a oportunidade de buscar-se a vida nas condições em que o fai el, estudando um master numa boa universidade americana. Os seus pais, a sua família, estão orgulhosos del e querem que saia adiante, que triunfe, que o consiga. Por isso apoiam que esteja aqui, tão longe deles. Nestes dous anos não voltou nem uma soa vez, nem por uma semana. Tampouco o vinhérom visitar. El di que não quer voltar, que tampouco tem morrinha. Não sabe quando os volverá a ver, talvez nunca.

Eu penso nos seus pais em Hefei e pregunto-me a mim mesmo se quereria ter filhos e criá-los tão só para botá-los ao mundo e não voltá-los a ver.

Eume em março

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Fotos enviadas polo lobo da arte. Eu não estava ali.