sábado, 30 de outubro de 2010

Cies


Não era a primeira vez que visitávamos as Cies, nem tampouco a primeira vez que lhes fazíamos um oco nestas páginas. Confio em que não será tampouco a última: visitas breves como esta não saciam a sede.





segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Fontaneiro sem auga



Um texto de Sara Cuesta publicado originalmente aqui.

Francisco Dopico nunca soubo o que é ter auga corrente em casa. Exatamente os 68 anos que tem de vida. Os mesmos que leva residindo na corunhesa rua de Puerto Rico. «Coido que atualmente devo ser o único habitante de toda a cidade que não tem auga», afirma. A guinda a esta situação po-na a sua profissão: é fontaneiro. A sua casa está situada numa zona do bairro de Vionho na qual outras velhas construções como a sua estavam na mesma situação há uma década. No entanto, a dia de hoje, Francisco é o único que continua vivendo ali. «Hai vizinhos que vivem ao outro lado da rua que não tenhem sumidouro, mas polo menos eles podem-se banhar sem ter de ir à fonte», comenta. E é que Francisco tem que ir com cubos a buscar auga a um manancial que está próximo à sua casa, na qual vive de aluguer hai mais de três décadas.

Em certo sentido poderia-se dizer que o de viver sem auga corrente «é uma tradição familiar», chancea. E é que os seus pais viveram toda sua vida sem o líquido elemento, noutra vivenda da mesma rua Puerto Rico, onde se criaram el e as suas irmãs. Quando casou, hai 36 anos, Francisco mudou-se com a sua mulher a uma casa próxima. Ali vivírom toda a sua vida e «ali medrou o meu filho», ao que tinham que banhar «a base de caldeiros, aquecendo a auga por tandas», lembra Francisco algo nostálgico.

A pesar de viver em condições mais próprias do medievo que do século vinte e um, Francisco é um homem alegre que assume a sua situação com humor. «Sou o único que resiste, e aqui sigo. Que remédio. Se tivesse dinheiro para comprar-me outro apartamento não estaria aqui, mas não o tenho», comenta. «Eu não sei o que é ter uma casa com auga. É uma desgraça, mas a vida é assim», afirma com resignação. Isso sim, de tubagens e bilhas sabe muito. Mas já se sabe, «em casa do ferreiro coitelo de pau», comenta antes de lembrar com tristeza que a sua mulher, já falecida, «sempre sonhou com viver num apartamento com auga».