sábado, 27 de novembro de 2010

Espertar contra o monstro



Venho de ler este fermoso artigo de Xoán Vázquez em Galicia Confidencial e não me resisto a reproduzi-lo aqui. Coido que hai razões de sobra, pois seu pai é, sem dúvida, gente de Arbolícia. Fazei-vos um favor e visitai o blogue do Xoán.

Meu pai, camiño dos 85 anos, criado baixo a crenza de que Franco era un santo cuxa inspiración esforzo e sacrificio habían salvado a España de caer nas gadoupas das forzas do mal, engadía o seu silencio de home convencido – polo o engano, claro - aos postulados dos acólitos do pro San Francisco Franco - arestora enredados noutros sacros oficios -, que xa finado o Caudillo nos presentaban feixes de probas e evidencias doutros tantos feixes de milagres atribuídos a aquela alma sacrificada, en vida sempre guiada por inspiración divina, para xa na morte ser tocada pola mesma man de Deus. Destinada, pois, a ser beatificada. Sendo do fecundo de milagres o máis grande o irrevogable feito de que salvou a España de caer nas ateas perversas e inmorais gadoupas dos comunistas, anarquistas e ateos que ameazaban con desanaquizala, guiándoa polos vieiros da perdición á destrucción moral. E reclamaban, con esa humildade que soamente os déspotas máis “puros” enxertados na arbore da hipocrisía mesquiña e pertinaz son capaces de profesar e proxectar, erguelo aos altares da devoción eternal. Que saiban os máis novos que non é ningunha lenda (o do San Francisco Franco), aínda eu me lembro cando algúns propuxeron canonizalo, non sei se antes ou despois de canonizar a Isabel e mais Fernando. Ao mellor o máis sabio e coherente houbera sido unha cerimonia unificada: aquilo do monta tanto.

Meu pai é un home bo, cun grande espírito de entrega e sacrificio. Pertence á colleita daqueles homes labregos que nunca souberon o significado da palabra “ética”. Nunca lles fixo falta sabelo, non souberon vivir doutra maneira. E por iso que podían ser enganados, que o foron, e traizoados, que tamén, mais nunca corrompidos, que endexamais. E tamén é por iso que non me sorprendeu que nestes últimos anos - por lóxica da vida xa con deixes a derradeiros -, e a medida que se foron facendo públicas as atrocidades do franquismo, o seu nobre espírito, sempre receptor á verdade, se for alimentando coas pequenas faíscas de luz que foron caendo naquel pozo de escuridade que desde rapaciño lle foron labrando para ser utilizado como un vertedoiro onde almacenar mentiras andrómenas e enganos; ou sexa, mansedume e obediencia.

Sentado nunca cadeira á mesa da cociña, envorcado sobre a baralla, seus cansos ollos de cando en cando enxergando o televisor que trataba o asunto dos desaparecidos na posguerra, memoria histórica e outras lerias. Naquel intre o reporteiro falaba concretamente da xente de ben que en Ferrol fora asasinada, de como algúns dos cadáveres foran amarrados uns aos outros e vertidos e afundidos no medio do mar para que nunca máis deles se soubera. Foi alí cando en soliloquio, sen erguer a cabeza nin mirar ao televisor, namentres descartaba se lle escapou da alma coma un reflexo espontáneo dun pestanexar perante un lixo inesperado e insolente aquilo de “… pero moita xente matou ese condenado...”. Rebotaron na miña cabeza aquelas verbas con esa forza sutil e apracible capaz de apagar tódolos outros moitos ruídos e facer que o tempo fique quedo namentres os tópicos agonizan. Olleino. Non dixen nada. Non quixen indagar no escoitado. Non sei nin se se deu conta do que dixo. Sei, e abóndame con iso saber, que meu pai xa non ha finar os seus días axeonllado nos altares do engano rezándolle ao monstro de Ferrol. E sei tamén, certo, que nunca é tarde para o desengano.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

The Zombies (Vigo, 11/11/2010)




The Zombies são uma banda inglesa de curiosa trajectória. Formados a começos da década dos '60, sacárom vários singles que chegárom a ser êxitos menores arredor de 1964/65. Era a época beat, e eles enquadravam-se mais ou menos nessa onda, se bem com alguns toques especiais. Em 1965 editárom o seu primeiro LP, onde basicamente se recompilavam os seus singles anteriores, e em 1967 gravárom a que seria a sua obra mestra, o disco "Odessey and Oracle": uma fermosa colecção de canções de pop barroco, com apenas algumas insinuações psicodélicas. Mas quando saiu ao mercado, em 1968, a banda já se separara. Assim que, mentres nas décadas seguintes "Odessey..." foi criando um culto crescente, eles não estavam ali para capitalizar esse êxito tardio. Mas, maravilhas do novo milénio, hoje podemos desfrutar dos Zombies ao vivo, e assim o figemos ontem na sala Mondo.

O concerto começou com tão só os dous líderes do grupo sobre o escenário. São uma parelha de contrastes: Colin Bluntstone (voz e aspecto cadavérico, escasos signos vitais) e Rod Argent (teclados e entusiasmo, principal referência sobre o escenário). Despois de tocar um par de temas que não figuram no seu repertório clássico, entrou o resto dos integrantes da banda. O som era correto, mas seguiam sem tocar temas reconhecíveis para mim. Isso si, o Rod Argent encargava-se de contextualizar cada um deles polo miúdo, destilando amabilidade no seu inglês bem inglês. Até que empalmárom 4 ou 5 temas seguidos de "Odessey & Oracle", começando por "A rose for Emily" e incluindo "Care of cell 44" (seica é a canção favorita de Dave Grohl). Soava bem, ainda que não chegavam a reproduzir o fantástico som do disco original.

Despois veu um repaso a alguns temas da sua primeira época, como o hit "Tell her no" ou uma das minhas favoritas, "Whenever you're ready". Soou também, como não, o "Time of the season". A estas alturas já estavam mais soltos, e nos obsequiárom com alguns desenvolvimentos instrumentais bem desfrutáveis. Para o final deixárom o que seguramente é a sua canção mais redonda, uma autêntica "nugget": uma pletórica interpretação de "She's not there". E voltamos contentos para casa (apesar de ter apoquinado 18.75€ por hora e pico de concerto numa sala petada de mais).

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

20 anos de Diplomáticos de Monte Alto





20 anos... arroutados!!

Estamos no tempo de... botar a vista atrás. Com a idade venhem as lembranças, e decatas-te de que um feixe de cousas que passárom na adolescência (os anos moços por excelência) acontecérom hai já "n" anos. E a mim, mália ir sempre de eclético, cosmopolita, original e indie/alternativo, se algo me tocou de perto (e penso que podo falar também polos meus amigos) naqueles anos '90, não foi tanto o grunge, nem a electrónica nem outras cousas igualmente interessantes. Foi o que passava aqui, no nosso bairro, na nossa aldeia, na nossa instância (persoal) do mundo (global) que nos acolhe. Vaia, tampouco me quero pôr pedante de mais... vamos, que se algo nos tocava a fibra circa 1994, isso era o que se deu em chamar Bravú. Que, se imos a isso, era bem eclético, cosmopolita, original e indie/alternativo, ainda que não saia nas revistas de tendências nem no rockdelux.

O ano passado comemoramos os 10 anos do disco dos Papaqueixos; algo antes reuniram-se os Rastreros... e esta volta tocava o 20 aniversário da banda bravú por excelência, os nossos Pogues, os nossos Mano Negra: os Diplomáticos de Monte Alto! Que já se juntaram recentemente para tocar no Reperkusión de Alhariz, mas coincidira com a despedida de solteiro de Paco e não puidéramos ir. Mas esta vez não havia grandes impedimentos, e puidemos dar-nos cita na Crunha, para inaugurar a sala Túnel (com entradas a 5€, esgotadas dende dias antes) nos baixos do Coliseum, no cada vez mais urbano bairro de Elvinha.

Hoje fum ao mundo inteiro





Xurxo Souto arenga à tropa da tralha

A jornada de festa começara muito antes de nós chegar: a Rota da Tralha percorreu “o mundo inteiro”, dende Monte Alto a Elvinha, descargando ao seu passo a Treboada Korunhenta. Bandeiras negras, megáfono e repichocas para tomar as ruas: party for your right to fight. Assi cantavam quando passavam os irmandinhos. Assi chegárom ao Coliseum, e alá entramos com eles no Túnel.



festa jarbanceira

O espírito do passaruas não se esvaeceu de vez: os Jarbanzo Negro não saírom ao escenário, senão que se metérom entre o público e começárom (ou seguírom, segundo se mire) a festa. Acompanhados por Xurxo Souto, movérom-se e movérom-nos cara adiante e cara atrás, e quando subírom ao palco a cousa seguiu polos mesmos derroteiros. Ainda que nunca me gustárom demasiado (comprei o seu disco e bem que me arrepentim), hai que reconhecer que ao vivo tenhem um passe. E o seu festivo turbo-folk fijo bem de aperitivo para o que estava por vir.


Kontra o mundo!




Carlos Blanco, o seu é provocar

Carlos Blanco foi o encargado de apresentar aos Diplos, e fijo-o bem: começou com um “Eu som de Vigho e do Selta”, por se havia algum despistado tentado de confundir orghulho local com tonteria localista. E a seguir, ¡por fim! Xurxo Souto, Rómulo Sanjurjo, Viascón, Mangüi e Guni, a formação clássica dos Diplomáticos de Monte Alto. Cinco karnotxos que já não são tão moços, mas não perdérom as forças – e muito menos as manhas:

San Furancho, O Incrible Bestilleiro, Gaiteiro, Atún, A Tropa da Tralla, Non Chas Quero, Platinos, Esta Noite Hei D'ir Aló, 120 Capadores, Mikaela, Mesejo, Terra Brava, Marujo Pita, Subhastado, Fura Futbolín, O Alcalde Morreu, Nordés, Tomás das Quingostas... decerto que deixarei alguma por citar; desculpai-me, mas a memória é limitada, e infelizmente a capacidade de reter momentos gozosos também o é. Que podo dizer? Todo soava igual de bem que nas nossas cabeças, cada canção era um hino que coreávamos de memória, os sorrisos, as miradas cúmplices e os vasos de cerveja alçados no ar deixavam bem claro que aquilo estava a resultar um concerto pletórico, desses que se lembram e se comentam sempre.

Korunha rabunha!

X.M. Pereiro: Cha-cha-cha-cha-cha-cha!!

Dixeram que não iam dar um concerto de reunião emotivo, desses nos que continuamente estão a subir velhos amigos ao escenário e os discursos entorpecem o show. E abofé que cumprírom o propósito, pois aquilo foi uma descarga de tralha sem descanso. Mas si que houvo, polo menos, ocasião de viver um momento único: quando um Xosé Manuel Pereiro visivelmente emocionado apareceu para cantar dous temas que os seus Radio Océano legaram à posteridade: a sua versão de “Como o vento” (originalmente dos portugueses Sétima Legião, posteriormente recuperada polos Diplos em Avante Toda), e a peça da sua colheita “Terra Chá”.



“Ai vai”, a peça que os Diplomáticos tomaram prestada dos Carayos (aquela banda que Manu Chao tinha à margem de Mano Negra), foi adotada como espécie de sintonia de continuidade, e tocada com ímpeto e brevidade como uma dúzia de vezes, para dar passo em cada ocasião a uma nova descarga de energia. (Penso que tocárom também algo do Komunikando, o disco que sacárom sem Souto nem Mangüi e que talvez nunca deveu existir, mas não sejamos maus: seguramente era necessário). Apropriadamente, rematárom com Aí Vos Quedades (entre curas, frades e militares!), e deixárom para o bis uma das suas canções que melhor resiste o passo do tempo: Estrume, essa colaboração com Xan que tantas vezes temos ouvido ao vivo.

Enfim, vemo-nos dentro de 20 anos, se é que antes não tronza o universo!!!