Escrito por Maria Cedrón e publicado n'a Voz de Galicia o 23 de Julho de 2006.
«Ai Dios... nunca vim tanta extensión. E claro, tras do horizonte tamém haverá pueblos». Dositeo fizo-se essa pregunta despois de ver onte por primeira vez o mar em Valdovinho. Soubo que navegando en direçom a aquela linha distante que albiscavam os seus olhos estava a Grã-Bretanha e que, se em lugar de olhar para o norte tivesse botado a vista ao oeste, estaria América do norte. Entom, com curiosidade de descobridor, fizo-se outra pregunta: «E Buenos Aires aínda quedará moito máis longe, ¿ou?».
A sua pregunta nom era casual. Dositeo, da casa de Ramos, naceu em Touzom, na parróquia de Penamaior (Becerreá), e queria saber onde está a Argentina. Vários dos seus irmãos recorrérom mais de 10.000 quilômetros e assentárom-se ao outro lado do Atlântico. Dositeo, com 87 anos, fizo onte a viagem mais longa da sua vida. Foram pouco mais de 168 quilômetros. «Hoje (por onte) vim ou que nunca vim -di durante o retorno-. Som moitas cousas num dia. Todo grácias ás rodas. Porque se temos que fazer todo este caminho a pé...».
Durante os últimos 70 anos, Dositeo nunca saiu da província de Lugo. Foi várias vezes à cidade das muralhas em táxi «para ir aos médicos». Antes, quando começou a guerra, em 36, passou uns dias na Corunha para tratar umha úlcera que ainda tem num pé. Só tinha visto a ria.
Por isso, onte colheu o seu bastom e um chapéu para o sol disposto a ver, por fim, as ondas. Com curiosidade de neno descreveu a existência de duas Galizas. «Aqui saes dumha poblaciom e metes-te noutra -comentou chegando já ao litoral-. Esta deve ser boa terra. Ve-se moita gente e moita produçiom. Aqui hai moita riqueza e ali pobreza». E justo ao passar sobre a ponte da ria de Ferrol, olhou ao longe: «Esso que se vê alí parece néboa, pero é o mar, de verdá?».
Pola estrada, descendo para a praia seguiu analisando a paisage. «¿E aqui nom nevará?, ¿Tampouco xeará? Hai moito milho, deve haver moito javali porque lhes gusta moito». Sorprendeu-lhe, no meio de tanto plano, ver um monte ao longe, um alto sem repetidor.
Chegou o grande momento. Com bastom e um pé vendado, Dositeo pisou a area pola primeira vez. «Nom se anda moi ben, pero hai que andar. Na vida hai que andar». Mais el, de súpeto ficou parado, pensando. Despois sorriu. «¡Que lindo está o mar. Como trabalha -dixo referindo-se às ondas- Mira, e fai ruído, he, he... E como farám esses rapazes (surfeiros) para que nom os envolva a auga co seu arte?».
Contemplou todo o que havia ao seu redor: «E hai gente durmindo. E nom tenhem medo a que lhes venha a auga». E entom chegou umha onda. Dositeo levou um susto, mais riu. «Estes estám descansando, mais cum olho para trás». Despois dum tempo, Dositeo olhou ao céu. «Cheira a tormenta. Vai chover, haverá que marchar».
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1 comentário:
«¡Que lindo está o mar. Como trabalha. Mira, e fai ruído, he, he... E como farám esses rapazes para que nom os envolva a auga co seu arte?».
Este home cada vez que fala fai poesía...
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