terça-feira, 1 de junho de 2010

Shellac + Mission of Burma


(Sala Mondo, Vigo, 26 de maio de 2010)

Burma!

Teria eu 15 anos quando comprei por correio os “Fan Club Singles” de REM: dous preciosos singles em vinilo transparente e coloreado com as versões que a minha banda predileta adoitava fazer como regalo de nadal ao seu clube de fãs. Daquela o de baixar música da internet era ciência ficção, assim que a única forma de escoitar essas canções era tendo o disco em si, o que lhe conferia a estes artefatos para coleccionistas um caráter de jóia do que agora, evidentemente, carecem. Um dos temas incluídos nessas gravações era “Academy Fight Song”, hit perfeito e pegadiço onde os haja, que me enganchou ao instante. Infelizmente, estava acreditado ao seu autor, um tal Conley do que não escoitara falar (hoje googleas isso e tes toda a informação que desejes em seguida, mas daquela... enfim, não sigo com as batalhinhas). Tardei vários anos em averiguar que a banda de Conley era Mission of Burma, um combo de culto na escena post-punk de Massachusetts que tivera uma breve existência circa 1980. Com o tempo baixei alguns dos seus MP3, e o ano passado comprei numa tenda de Boston um CD que recopilava o seu primeiro 7” (aquel “Academy Fight Song”) e o seu EP “Signals, calls and marches” (no que se atopa “That’s when I reach for my revolver”, outro hino de raiva, ruído e melodia tão característico deles). O legado original dos MoB reduz-se a essas duas gravações e a outra mais, o LP “Vs” de 1982 que supostamente inspirou o disco homônimo de Pearl Jam. Mas hai mais, de feito moito mais, porque 20 anos despois do “Vs” se juntárom de novo... e o resultado é que na última década temos 3 discos novos de MoB que, por certo, não estão nada mal.


Shellac!!!
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Até aqui o meu repasso persoal a Mission of Burma. A respeito de Shellac, a verdade, tenho menos que dizer. Evidentemente considero a Steve Albini um dos gênios do rock do último quarto de século, mas principalmente na sua faceta de produtor. Um ghicho que gravou “Surfer Rosa”, "Rid of me", "In Utero", “Seamonsters”, "Yanqui UXO", "Gipsy punks underdog world strike" ou "Ys", por citar só uns poucos dos miles de discos nos que meteu mão, não merece outro apelativo. Agora bem, como músico já cambia o conto. Nem com Big Black nem com Shellac me acabava de convencer, estava bem, correto, mas pouco mais.

É por isso que fum à sala Mondo principalmente por Mission of Burma, e Shellac era um pouco a propina. Mas sairia com uma opinião diametralmente oposta...


Abrírom os Mission of Burma, e aginha nos decatamos de que algo não ia bem. O som era horroroso, a voz havia que imaginá-la e os instrumentos produziam apenas ruído. Pouco foi melhorando durante o concerto. Mas o que é pior, no repertório escatimárom os clássicos que os figeram grandes: da primeira época soou “This is not a photograph”, mas nem o “Academy” nem o “Revolver”. E isso não se fai, que carai. Vale que o “Obliterati” ou o “OnOffOn” são discos que estão bem, mas se vimos ver umas velhas glórias queremos um pouco da velha glória! E por riba, sem bises... enfim, uma decepção, e eu já estava pensando que estaria melhor na casa. Mas nessas saírom Shellac...


Que panda de animais. Que brutalidade. Que diferença entre escoitá-los em disco e ao vivo, nada a ver. O Steve Albini é a personificação do ROCK, nem mais nem menos, e baixo a aparência mais improvável (semelha mais um dos piores frikis da Automática que me tenha atopado na carreira). Mas o tipo não só VIVE e RESPIRA rock puro-e-duro, senão que consegue transmiti-lo, o cabrão. Normalmente som escéptico quando leio este tipo de comentários, mas tenho que admitir que neste caso é assim. Shellac comérom-se a Mission of Burma nos primeiros 5 segundos de atuação, e despois dedicárom-se a dar uma lição magistral do que é o rock. Intensidade, ritmo, potência, guitarra, baixo, bateria, voz. This isn’t some kind of metaphor... goddamn, this is real! Temas que parecem simplemente OK ao escoitá-los na casa convertem-se em brigadas de demolição quando estás assistindo à sua interpretação em direto. Um exemplo, o “Prayer to god” que abre “1000 hurts”, e esses berros de “fucking kill him”. Enfim, como nada do que poida dizer transmitirá o que são capazes de fazer estes elementos sobre um escenário, quase melhor calo e deixo uma recomendação: sempre que poidades, ide-os ver.

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