O cartaz descrevia Cró! como "rock alternativo" e nom é mentira, ainda que a etiqueta pode resultar equívoca. Eu, abusando da notaçom, preferiria definir o grupo viguês como post-rock, que é igualmente ambíguo mas dá mais pistas: por exemplo, já te imaginas que se trata de música (maiormente) instrumental, com vozes reduzidas à anedota ou o tarareo. E também dá a entender que o seu atractivo reside em boa medida nas subidas e baixadas de intensidade, sem desprezar tampouco algum toque progressivo ou médio free jazz. Os próprios Cró! proponhem outro termo: "rock com visuais", mais inusual e se cadra mais ajeitado. Porque dos 5 componhentes desta banda, 4 som a clássica combinaçom de guitarra, baixo, teclados e bateria, mas hai um 5º que se dedica a pintar mentres os outros tocam. Umha proposta original, abofé, e bem resultona, que nos fijo passar o tempo voando.
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
domingo, 18 de novembro de 2012
Rota da poça de Pinheiro, no Suido
Um roteiro domingueiro, curto e relativamente perto da casa. Partindo do camposanto de Pinheiro, na vertente Sul da Serra do Suido e pertencente ao concelho de Covelo, subimos até a Poça de Pinheiro, criada por umha pequena represa artificial. Paisage de monte baixo, uces e toxos, alguns pinheiros que lhe dam nome à parróquia e baixo os que recolhemos uns quantos boletus (já algo passados); fauna de cabalos e caçadores (e disque também lobos, mas nom vimos nengum).
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
Castanhaço em Chantada, 3 de Novembro
Cinco anos despois, voltamos ao Castanhaço! Se no 2007 o aliciente principal fora a volta dos Rastreros, desta vez a aposta corrigia-se e aumentava-se engadindo Diplomáticos e Papaqueixos. Juntava-se assi o triunvirato bravú por excelência, e ainda se lhes somavam Cuchufellos; grupos todos aos que já tinha visto e cujos concertos já resenhei noutras ocasions neste mesmo blogue, polo que espero nom repetir-me de mais. Havia ainda outra banda mais, os mais novos do paquete: Liviao de Marrao, aos que nom chegamos a ver (ainda que si a escoitar apenas um chisquinho), já que abriam a noite e quando chegamos já estavam tocando as derradeiras (versons de "Zu Atrapatu Arte" e "Somos Liviao de Marrao"). Mágoa, terei que agardar a outra ocasiom para ver tocar ao vivo ao rapaz de Casares.
Logo vinham Os Papaqueixos, que, como todo o mundo sabe, som a realizaçom do que deveria ser a música popular galega se nom fosse este um país amputado em tantos sentidos. Umha banda que bebe de muitas fontes e mete na "batidorra" música tradicional e folk, jazz e funk, rock e ska, agitando-as com espírito punk e ánimo festivo. Numha Galiza melhor haveria muitos grupos assi, mas aqui só tivemos um. Por isso é de agradecer que sigam tocando de quando em vez, e perdoamos-lhes a falta de prática que se lhes chegou a notar nalgum momento (ainda que, quede claro, o som foi fantástico)... e por isso mesmo estaria mui bem que completassem o labor gravando um novo disco, ainda que só seja por ter essas cançons que ficárom fora de "A lóxica aplastante do comité de propaganda". Já sabedes, que se Rouco Varela e os democrata-cristianos, que se "a desaramiar", que se do barco de chanquete nom nos moverám... ainda menos mal que soárom no concerto, junto a clássicos como "Mai löb is güeitin faragüei", "Matías o morcego" (2 vezes) ou, por suposto, "Teknotrafikante", que reservárom para o bis.
Os seguintes velhotes em sair ao escenário fôrom os Diplomáticos de Monte-Alto, outros que tal bailam. Enumerar as cançons que tocárom seria absurdo, pois como nom podia ser doutro jeito tratava-se dum hino tras outro, e muitos ficárom por tocar. Um concerto seu é umha celebraçom coletiva, umha litúrgia gozosa que sempre é por força curta de mais (apesar do mal hábito que tenhem de repetir "Ai vai" cada pouco). Poderia acostumar-me a repetir este ritual cada poucos anos. Talvez o faga, tem toda a pinta...
Os Rastreros demostrárom ter os bandulhos menos voluminosos, os automatismos melhor conservados, e a atitude mais punki da noite. Sempre foram assi, eram os nossos Cockney Rejects, os nossos UK Subs; que caralho! os nossos Sex Pistols... e resulta-me particularmente reconfortante ver que a mala óstia segue aí, nom só intacta senom renovada, como deixou patente a homenagem às Pussy Riot. Com "Vida de Xan", "Pandeirada Salvaxe", "Mucha Jet(a) Set", "Tratorada", "Rozando nos toxos", ou o hino do Xabarín Club "O sacristán de Basán", era impossível nom vir-se arriba. Por consenso entre os que ali estavamos comentando a jogada - Carlos, Antom e o que isto escreve (faltou Paulo!) -, fôrom os mais convincentes do festival.
E para fechar a noite, Cuchufellos, quem fixérom o de sempre: pelucons, charanga, bailoteo e festa a ultranza, mui encomiável para essas horas. Como dixo Carlos, estám encaixilhados no papel de entreter borrachos, algo que tenhem dominado. A estas alturas tenho claro que os de Maceda de Trives nom vam ser a minha banda favorita, mas tampouco lhes vou pedir mais.
quinta-feira, 1 de novembro de 2012
CURRENT 93: A MESMÍSSIMA VOZ DO MESMÍSSIMO DEUS
(esta postagem vai acompanhada dumha
recopilaçom que se pode descargar aqui e que por suposto deve ser escoitada)
A história da minha fascinaçom por
Current 93 começa com a descoberta do seu disco Black Ships Ate The Sky na lista de Rockdelux dos melhores discos
do ano 2006, numha discreta 43ª posiçom. Soava-me que o grupo era
algumha escura banda de culto, mas nom sabia que tipo de música fazia. A breve
resenha, que falava de “folk visionário ancorado na tradiçom pastoral británica”
e de arrebatos elétricos, espertou a minha curiosidade o suficiente para que
uns meses despois decidisse mercar o CD, na desaparecida tenda de Gong em Vigo,
apesar de nom ter mais referências. Em absoluto imaginava que essa compra, um
chisco aleatória, havia marcar tam significativamente a música que escoitaria
nos seguintes anos.
Foi um disco que me impactou desde o começo, com essa lastimosa pregunta “and am I born to die...?” com que
se abre “Idumaea” [tema 4 da recopilaçom que acompanha este texto]. Esta cançom, um fermoso e
doloroso canto à transitoriedade do passo por este mundo, vertebra todo o
disco, de jeito que 8 dos 21 cortes som versões dela cantadas por
diferentes artistas (entre eles Antony, Bonnie Prince Billy ou Marc Almond).
Desconhecedor do contexto, ao princípio interpretei a sua mensage em chave nihilista
sem saber que era justamente o contrário: a expressom da crença religiosa na
resurreiçom, na vida trás a morte.
O resto dos temas som alucinadas descrições duns sonhos que tivo David Tibet, o letrista e cantante do grupo, nos que via barcos negros que vinham traer a apocalipse. Nas suas palavras, “Black Ships Ate the Skies” é um reflexo da minha crença de que estamos vivindo no fim dos tempos. "Barcos negros comérom o céu”: estes som os signos do Ascenso do anticristo, quando barcos negros aparecem no nosso horizonte—literal e metaforicamente. Musicalmente o disco transita entre temas calmos, nos que a voz leva a maior parte do peso acompanhada apenas por umha guitarra acústica, e outros mais ruidistas nos que aumenta a intensidade elétrica.
O resto dos temas som alucinadas descrições duns sonhos que tivo David Tibet, o letrista e cantante do grupo, nos que via barcos negros que vinham traer a apocalipse. Nas suas palavras, “Black Ships Ate the Skies” é um reflexo da minha crença de que estamos vivindo no fim dos tempos. "Barcos negros comérom o céu”: estes som os signos do Ascenso do anticristo, quando barcos negros aparecem no nosso horizonte—literal e metaforicamente. Musicalmente o disco transita entre temas calmos, nos que a voz leva a maior parte do peso acompanhada apenas por umha guitarra acústica, e outros mais ruidistas nos que aumenta a intensidade elétrica.
“Current 93 existe como o olho da tormenta benéfica; um que produz medo
do medo, sobressalto do sobressalto e amor do amor” – Will Oldham, AKA Bonnie Prince Billy
Despois desse primeiro contacto passei
quase 2 anos sem aprofundar na música de Current 93, até que um dia dei em procurar mais
canções suas. Foi nos meses nos que estava em Boston, naquela estadia no MIT; coincidia que naquelas datas C93 davam um concerto em Compostela, ao que obviamente nom
podia acudir, o que seguramente ajudou
a motivar-me para a procura. O que fum atopando em Youtube, tomando como guia as canções do recopilatório Judas as Black Moth (2005), deparou-me sorpresas várias e achádegos contraditórios. Aparentemente, o
“Black Ships...” que eu imaginara ser umha excentricidade, umha anomalia na
carreira do grupo (já que, pensava, nengum grupo vai sacar discos assi por sistema!),
continha muitos elementos habituais na sua trajetória: a colaboraçom com outros
artistas, a repetiçom de certos motivos recorrentes ou mesmo de canções, a
temática mística e alucinatória... Por outra banda, entre as canções que
encontrava escasseavam os temas com estrutura clássica; poucos estribilhos (com
o que a mim me gustam) e umha curiosa variedade estilística.
Quando venhem as serpes... (They Return To Their Earth)
Pouco despois, num passeio polas proximidades do campus
de Harvard atopei umha tenda de discos singular, Weirdo Records,
que abofé que fazia honor ao seu nome porque só tinha marcianadas. Ali encontrei
algum que outro disco de C93, entre os que optei por comprar o Thunder Perfect Mind (1992), esporeado
polas boas críticas que vira em internet e polo feito de que continha algumhas
canções que já escuitara e que me chamaram a atençom. Era o 21 de Junho de
2009, e nos seguintes meses escuitaria esse disco umha e outra vez, na casa e
no carro, geralmente até que Mari Carmen me obrigava a quitá-lo. Fora dar com a primeira
obra verdadeiramente grande de Current 93, e possivelmente a ocasiom na que
mais que se tenhem aproximado à perfeiçom. Originalmente editado em formato de
vinilo duplo, os quase 80 minutos do TPM formam umha suíte meticulosamente
organizada, de grande coesom. Inspira-se em parte num poema gnóstico do século
IV, “O Trono, Mente Perfeita”, originalmente escrito em cóptico, e a música soa
antiga, mais medieval que nunca, mas incluindo todas as diferentes sonoridades
que caracterizam a música de C93: esquisitas guitarras, violinos e flautas;
vozes melancólicas ou inquietantes; ruídos e subtis distorções para as partes
mais alucinatórias. O disco discorre numha atmosfera de mistério e
introspecçom, pontuada por preciosidades como “A sadness song” [tema 10 do
recopilatório], “A song for Douglas after he’s dead”, ou “When the may rain
comes”, a única versom do disco, original do grupo de kraut-rock Sand. Mençom
especial merecem também as duas peças longas incluídas, dumha rara mestria:
“All the stars are dead now” e “Hitler as Kalki”. Mas quando o disco alcança
umha estatura maiúscula é, curiosamente, nas reedições em 2CD de 2003 e
posteriores—como a que comprei eu—nas que se engade umha hora extra de temas
que ficaram fora da mistura original. E precisamente aí é onde se encontra a
jóia da coroa: “They Return To Their Earth” [tema 2 do recopilatório],
provavelmente a melhor cançom publicada nunca por C93, umha maravilha de mais
de seis minutos com umha letra tam críptica como o resto do seu repertório e umha
melodia inesquecível. Entre o 2009 e o 2010 devi-na escuitar dúzias e
dúzias e dúzias de vezes, decerto muito mais que qualquer outra cançom. A dia
de hoje segue a ser a minha favorita de C93, e umha das minhas canções
favoritas de qualquer artista em qualquer época.
Chegados a este ponto, e antes de
seguir descrevendo como a minha afeiçom foi virando em obsessom, acho que vai
sendo hora de aclarar: qual é, já que logo, a história de Current 93 e a do
home que a encarna, David Tibet?
In a foreign land, in a foreign town... (Fields of Rape)
A começos dos anos 80 David Michael
Bunting tinha vintepoucos anos, vivia em Londres e fazia parte de bandas de
música industrial como 23 Skidoo e Psychic TV. Ainda que de ascendência
inglesa, nascera e criara-se em Malásia, onde desenvolvera um grande interesse polo
hinduísmo e, especialmente, por religiões como o cristianismo e o budismo
nepalí, que naquel contexto lhe resultavam mais exóticas. Já em Londres, a sua
teima com o Tibet provocou que Genesis P. Orridge, ex-líder de Throbbing
Gristle e nesse momento integrante de Psychic TV, o rebautizara como David
Tibet.
Com esse pseudônimo fundou Current
93 junto a outros inadaptados (ao mais puro estilo “Nós o inadaptados” de
Vicente Risco, isto é: com tendências místicas, depreciativos da modernidade, e
até confusamente filo-nazis nalgum caso—ainda que nom no seu). O seu número e
identidade nom está claro, ainda que se falamos dos que tivérom mais
importância nesses primeiros anos hai que citar o triângulo formado por John
Balance (Coil), Steven Stapleton (Nurse With Wound) e Douglas P. (Death In
June), todos com as suas próprias bandas. E é que os colaboradores tenhem jogado
sempre, desde o começo, um papel fundamental na música de Current 93. Mália ser
David Tibet o único membro fixo, el nom é propriamente músico, nom toca nengum
instrumento e quase nem canta senom que mais bem declama, como se estivera a
recitar poesia (ou em todo caso, berra). El é o catalisador, o organizador, o
que recruta talentos alheios, que variam dum disco a outro ainda que haja
alguns quase-constantes, como Stapleton (em cujos discos como Nurse With Wound,
em troca, adoita aparecer). E olfato nom lhe falta: nom em vam foi o
descobridor de Antony & the Johnsons, cujo disco de debut foi editado polo selo
de Tibet, Durtro.
Maldoror está morto morto morto morto morto
Ainda que resulte surpreendente ao escoitar a sua produçom atual, as gravações do primeiro lustro de existência de C93 (de 1983 a 1987) eram música industrial, com forte componente experimental. Nom se atopa neles nada parecido a umha melodia; as vozes limitam-se, polo geral, a repetir mantras; e os ruídos de acompanhamento servem para criar umha atmosfera sinistra, asfixiante, imponente. Um bom exemplo é o disco de debut, Nature Unveiled (1984), que consta unicamente de 2 cortes com os sugestivos títulos de “Ach Golgotha (Maldoror Is Dead)” e “The Mystical Body Of Christ In Chorazaim (The Great In The Small)”. Um compéndio de zumbidos, cantos gregorianos e vozes distorsionadas que parecem querer criar ambiente para umha misa negra. A mesma tónica seguem Dogs Blood Rising (1984) ou In Menstrual Night (1986), entre outros, que ao igual que o anterior se convertérom em objetos de culto para os seguidores deste tipo de sons. Persoalmente creo que podem ser evitados, pois pouco aportam; mais ainda, se é o primeiro que escoitas de Current 93 é possível que saias correndo. Podem-se baixar de internet, por curiosidade ou completismo, mas pagar dinheiro por eles está reservado aos fãs irredentos. De fato, o próprio David Tibet admitiu que aginha perdeu o interesse nesses sons, e que fazer discos nesse estilo se convertera nalgo singelo de mais, que já nom o motivava. “Necessitava voltar ao que me comovia, que eram as nanas e a música folk”.
A-reaping I shall go / A-reaping I shall go / Hey, ho, the noddy, oh /
A-reaping I shall go ((Hey
Ho) The Noddy (Oh))
O giro estilístivo produziu-se
durante o ano 1987, e começou a notar-se em Imperium. Nesse disco atopam-se vários temas nessa onda: curtos,
folkies, simples e espidos de adornos [escuite-se “Imperium IV”, tema 12 do recopilatório]. O câmbio completaria-se
em várias entregas do ano seguinte, como Swastikas
for Noddy e Earth Covers Earth,
este último com portada homenagem a Incredible
String Band. Tendo em conta que no biênio 1987/1988 C93 publicou ainda uns
quantos discos ademais dos mencionados, fica claro que se trata dum grupo
prolífico (em 30 anos levam um total de 77 referências segundo a Wikipédia, incluindo singles isso si; e a cifra chega
até 129 segundo a completíssima lista de Brainwashed. Mas por isso mesmo nom mui
seletivo, e os seus discos até entom pecam a miúdo de irregulares. E curiosamente,
ao mesmo tempo que publica sem trégua, deixa fora dos LPs alguns dos seus
melhores temas: nesta linha, decisões como a de nom incluir “They Return to
their Earth” no Thunder Perfect Mind original, ou “Imperium V” [tema 3 do
recopilatório] no Imperium, som tam típicas de C93 como dificilmente
compreensíveis.
De todas formas, a gente morre
E assi chegamos a Ísland, de 1991, um disco gravado em
Islândia com o músico local Hilmar Örn Hilmarsson (HÖH), pioneiro da música
eletrônica e asemade sacerdote neo-pagão. Velho conhecido de David Tibet, já produzira
em 1987 o single “Crowleymass”, umha anomalia discotequeira (!) na discografia
de C93. Fora um tema peculiar tamém por ser umha burla de Alistair Crowley e
dos seus seguidores, o que pode chocar tendo em conta que o nome Current 93
está sacado da Thelema, a religiom/filosofia criada hai cem anos polo ocultista
inglês. Nom só isso, senom que David Tibet manifestou sempre um grande interesse pola
vida e obra de Crowley, e mesmo chegou a ingressar, sendo adolescente, na Ordem Tifoniana. Mas no religioso as suas crenças som outras, como já temos visto. Ao fio disto, cumpre dizer que é precisamente Island o disco que representa a transiçom desde um paganismo difuso a um cristianismo heterodoxo (tal e como se comenta na excelente resenha publicada na web de Julian Cope). Musicalmente também se apreciam câmbios, com um som caracterizado polo profuso uso de teclados, como é distintivo de HÖH,
ainda que nada que ver com a horterada de “Crowleymass”, felizmente: é
atmosférico, épico, intenso. Ísland toca obsessões comuns na obra de C93:
sombras, campos de colza, apocalipse, sonhos, incenso. É umha viagem gélida e
alucinada por paisages nórdicas ou algumha caste de Valhalla, como se imagina ao
escoitar por primeira vez “Anyway, people die” [tema 7 do recopilatório] com os
auriculares. Eu, como nunca estivem em Islândia nem Escandinávia, levei-no de banda
sonora no glaciar Perito Moreno. Por
certo, Björk fai coros nalgumha cançom.
Island marca o começo da melhor década de C93, a que vai de 1991 a 2000. O seu sucessor é o já comentado Thunder Perfect
Mind, e o seguinte o fermoso Of Ruine or
Some Blazing Starre (1994). Nesse ano saírom publicados tamém os notáveis
EP’s “Tamlin” e “Lucifer Over London”, no qual destaca a cançom homônima, que
escolhim para fechar o recopilatório [tema 17]. E no biênio 1995/96, a trilogia
“The Inmost Light”, nucleada em torno ao LP All The Pretty Little Horses, um dos favoritos da afeiçom, e por
boas razões.
Vende todo o que tenhas / dá-lhe-lo as gatas / e verte o leite / na
tumba de Louis / e Gatolândia—às vezes chamada Reino dos Mininos—abre-se
perante ti / ao instante (The Bloodbells Chime)
Louis é
Louis Wain, pintor compulsivo de gatos e um dos artistas venerados por David
Tibet, a quem inspirou, entre outras muitas canções, “The Bloodbells Chime” [o tema
que abre o recopilatório], umha pequena maravilha que medra e medra com as
sucessivas escoitas. A letra, infantilmente encantadora e emocionante, contribui
a dar-lhe a All The Pretty Little Horses o ar entre misterioso e inocente que o
caracteriza. A música de Current 93 leva-nos freqüentemente polo gume dumha
navalha entre o sublime e o prescindível: ou emociona ou nom provoca emoçom nengumha, e
quiçais seja este disco um dos melhores exemplos disto (adequadamente, a imagem
da portada, a da nena chorando, é um quadro chungo atopado na rua). Com a cançom
mencionada, de todas formas, nom hai lugar a dúvidas: é do melhor que tem feito
nunca Current 93, e como exemplo o seu remate, esse momento mágico no que di “Tommy Katkins still sends his regards /
Frozen forever / on some animal somme / The last thing on his mind is marriage
/ But the call of home and heart / Yet the bloobells chime” (olho aos
ruidinhos que mete por aí, como quem nom quer a cousa, o camarada Stapleton,
experto em criar distorções pouco perceptíveis mas que afetam de forma
importante ao resultado final). Outro momento álgido é o tema titular, incluido em 2 versões, umha
cantada por David Tibet [tema 13 do recopilatório] e outra a cargo de Nick
Cave. Para nom estender-me mais, remito à mui laudatória crítica incluida aqui:
Tende piedade polos mortos (Sleep Has His House)
Os dous discos de estudo seguintes
(deixando aparte os habituais artefatos sonoros em 7” ou 12”) som obras plenas,
próprias dum artista que encontrou definitivamente a sua madurez: Soft Black Stars (1998), umha uniforme
coleção de canções de repousada e uniforme beleza como “Whilst the Night
Rejoices Profound and Still” [tema 5 do recopilatório]; e o temático Sleep Has His House (2000), as
particulares “Coplas a la muerte de mi padre” de David Tibet. No recopilatório
[corte 6] incluim umha versom mui reduzida do tema titular, gravada ao vivo,
que no disco original durava 24 minutos. Despois del haveria que agardar até
2006 para escoitar o seguinte LP de temas novos, o já comentado Black Ships Ate
the Sky com o que começava este texto. Conhecendo a David Tibet, já se imagina
um que nom por isso deixou de haver novidades de C93 durante o lustro anterior,
no que com efeito se publicárom por volta de 30—si, 30—discos entre
recopilatórios, diretos, singles, rarezas, etc.
Tam reais como arcos da velha
Aleph at Hallucinatory Mountain (2009) incide nas partes mais enérgicas do "Black Ships...",
com tremendismo guitarreiro em muitos temas. O elenco de colaboradores é amplo
como de costume, incluindo esta volta a veterana da americana Rickie Lee Jones
e a pornostar Sasha Grey (!), entre outros. Baalstorm, Sing Omega (2010) completa umha trilogia
apocalíptica-alucinatória sobre o começo e o final, o primeiro assassinato, Aleph,
Aeon, Baalstorm, Omega e essas cousas. Som discos interessantes que recibírom
boas críticas (o “Aleph...” um excessivo 8.2 em Pitchfork), mas que nom chegam
ao nível de “Black Ships...”. O passo atrás acentua-se com o seu último LP, o
mui tranquilinho HoneySuckle Æons (2011). As novas mais recentes falam de que estes dias David Tibet anda num projeto chamado Myrninerest, definido na sua
web como “The New Sphere of The InnerMost
Light. The MouseSource. Sweet Sodom SingsSongs. Lilith at PicNic”. Confiemos em que a próxima obra mestra esteja cerca.
E coido que já está, isto é o que tinha que dizer. Espero ter-te convencido, amável leitor, de que Current 93 som a verdadeira voz do verdadeiro deus; se é assi a minha missom está cumprida. A partir de agora a salvaçom está na tua mao; escoita o recopilatório, play it loud & pray it loud, e renascerás como o milho. Amen.
(E se nom ficaches convencido com a minha versom, eis umha guia alternativa para introduzir-se na discografia de C93 tirada de muflowcharts:)
(E se nom ficaches convencido com a minha versom, eis umha guia alternativa para introduzir-se na discografia de C93 tirada de muflowcharts:)
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
Sinsal San Simón
Fronte à surtida
oferta de atos de exaltaçom nacionalista que nos oferecia Compostela, este ano decantamo-nos
pola pouco patriótica alternativa de passar o 25 de Julho na ilha de Sam Simom.
11 grupos em 4 escenários, num festival diurno realizado com luz natural num entorno
singular.
(encima, o prezado programa, que só conhecimos ao chegar)
O festival
deu começo às 12:00 com um concerto de bem-vida no escenário do peirão, a cargo
do trio belga Hoquets. Umha formaçom
caracterizada por empregar instrumentos de fabricaçom caseira e aparência de
ter sido feitos numha aula de pretecnologia da ESO. Maiormente de percussom, ainda
que tamém havia algo de vento e corda, como umha guitarra fabricada com caixa
de puros, pau de vassoira e arame. Ficamos pampos ao ver que com estes
cacharros eram quem de obter um som notável que para nada lastrava a sua música,
rock vitamínico com inclinações funkies. Figérom gala de originalidade e
sentido do humor, tanto na posta em escena como nas letras, e ganhárom-se que
lhes comprássemos o disco. A posteriori, os melhores da jornada, ainda que
naquela altura era cedo de mais para sabê-lo.
Às 13:00,
com umha pontualidade esquisita que seria a tônica de todo o festival, saírom a
tocar L’Enfance Rouge no escenário
do passeio dos buxos. Um trio de rock francófono, ao igual que Hoquets, mas aí
rematam as semelhanças. Se os anteriores ponhem o foco em descolocar ao
espectador e sacar-lhe um sorriso, desprezando qualquer pretensom de
trascendência, estes levam posta a máscara da seriedade e usam umha formaçom
clássica, com guitarra, baixo e bateria (mais a colaboraçom nas primeiras
canções do violinista de Al-Madar). Umha diferença que já se podia intuir só
com ver o aspecto dos integrantes de um e outro grupo: da impossível combinaçom
de cores dos Hoquets ao negro rigoroso de L’Enfance Rouge. Canha com querências
“post-”, em resumo. Aprovado alto.
No mesmo
escenário tocou Christian Kjellvander,
o cantautor sueco de americana que eu, ingenuamente, pensei que ia ser The
Tallest Man o Earth. Si, porque umha das peculiaridades deste festival é que
nom se sabia a priori os grupos que iam tocar; em lugar de anunciá-los davam-se
pistas via web. Pistas óbvias para listilhos e campeões do gafapastismo, mas
nom para mim, que nom pilhei nengumha e trabuquei-me na única que crim saber. E
por isso nom me puidem preparar a discografia do fulano este, cujo concerto
perdia ao nom conhecer nengumha cançom. Isso si, como música de fondo para o
bocata, cumpriu sobradamente.
Às 15:00
coincidiam dous concertos. No mesmo escenário que os anteriores tocava Aries, umha rapaza que se apanhava para
cantar, tocar a guitarra e manejar o teclado ao mesmo tempo. Mália haver por
momentos alguns problemas para escoitar a voz, o seu dream-pop deixou-me boa impressom
e vontade de mais. Pero, havia que dar-lhe a oportunidade aos que tocavam
simultaneamente, assi que deixamos a sua atuaçom pola metade e marchamos para o
escenário Sam Antom, no outro extremo da ilha.
Ali estavam Al-Madar, um quinteto cujo nome já dava pistas sobre os sabores árabes que caracterizam a sua música. A dizer verdade, o mais impressionante do seu show foi o próprio escenário, possivelmente o mais privilegiado no que tenha presenciado um concerto: ao borde mesmo da ilha, com a enseada detrás e Arcade ao fondo. De luxo total.
Ali tocou a
seguir Alela Diane, o único nome que
se filtrara com antelaçom, ou polo menos o único que eu sabia que ia tocar.
Trata-se dumha cantante de alt-folk (ou psych-folk, ou a etiqueta que lhe
queiram dar); a mim lembra-me muito a Laura Veirs, o que é bom. Como já
escoitara os seus discos no Spotify, sabia que tinha um feixe de canções
meritórias. Porém, o escenário resultou algo inóspito para ela: o vento batia
mui forte e enfriava algo o ambiente, nom só o metereológico. Um pequeno preço
a pagar por umha localizaçom tam exclusiva.
Os
problemas com o vento agudizárom-se com Maïa
Vidal, até o ponto de ter que interromper o concerto momentaneamente ao
pouco de começar. Felizmente o percance nom se repetiu, e puidemos desfrutar
dum dos melhores concertos do dia. É americana e fai folk, mas o nom tem nada
de country nem cousa parecida. Lembra mais à chanson francesa, em parte polo
acordiom que é junto com a voz o mais característico do seu som.
Às 18:00
tocava Nite Jewel no 4º escenário, o
Som Estrella Galicia, olhando cara Cesantes. Um grupo de synth-pop oitenteiro
(mais um ano, e o revival que nom para...) aos que coido que nom lhes sentava
mui bem o sol. Nom porque soassem particularmente mal, senom porque a sua
música é nocturna por definiçom e pareciam um pouco fora de lugar.
Aos que
lhes dava igual a hora e todo eram aos Unicornibot.
Um quarteto dedicado em corpo e alma à tralha, à religiom da intensidade rockeira
levada à máxima expressom possível (lembravam-me a Shellac nesse aspecto). Demência
ruidista enmascarada com cascos de papel de alumínio e rematada com invasom do
escenário. Sem dúvida, outros dos triunfadores da noite.
E já nom
restava tempo para mais: apesar de ser só as 20:00, tínhamos que voltar porque
nom puidéramos comprar tickets para o derradeiro barco, polo que ficamos sem
oir a Alt-J e Shangaan Electro. Um falho na planificaçom do festival, se
repitem para o ano que vem deveriam fazer um esforço para pôr barcos
suficientes ao remate da festa.
sábado, 28 de julho de 2012
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