terça-feira, 4 de junho de 2013

Primavera Sound no Porto, 30/05-1/06

 

QUINTA-FEIRA, 30 DE MAIO

Os encargados de dar a primeira nota no Parque da Cidade eram Guadalupe Plata, quem tinham que lidar com a hora (18:00) e mais com o sol, o que nom lhe sentava de todo mal aos seus lamentos de blues-rock pantanoso. Vinham depois os para mim desconhecidos Merchandise, cujo pop algo retro passou-nos sem pena nem glória. A seguir era o turno de Wild Nothing, mas escolhemos esse momento para ir cear e perdemos, conscientemente e sem mágoa, o seu techno-pop de aires oitenteiros. Voltamos para Breeders, iconos indies que vinham tocar o seu mítico disco de 1993, “Last Splash”, e isso figérom, puro trámite sem maior emoçom. As Deal a estas alturas estám para outras cousas, e se a reuniom dos Pixies tivera certo sentido e fora mui disfrutada, este bolo das Breeders era só para fazer caixa. Dead Can Dance, pola contra, dérom um concerto impecável, o primeiro após a caída da noite. Tanto Brendan Perry como Lisa Gerrard (ataviada como para sair em Jogo de Tronos, moi acorde aos sons new age e medievais da sua música) bordárom as suas interpretações, e temas como “Children of the sun” convencérom a fans e profanos por igual. Depois deles chegava o prato forte, a interpretaçom total de Nick Cave and the Bad Seeds. O australiano nom se limita a cantar senom que cria um personagem, esse canalha bastardo, e fai que o creas e mesmo te acohones. Foi alternando clássicos (Tupelo, The Mercy Seat, Red Right Hand) com temas do seu último disco, e estes últimos, que em princípio deveriam ser mais tranquilos, executou-nos com o mesmo nível de intensidade e mala óstia que os outros (os espectadores das primeiras filas, que passárom o concerto a sosté-lo nos braços, som testemunhas disto). Foi um setlist sobressaliente, apesar, evidentemente, de tocar só uma mínima parte dos temazos que poderia tocar. Difícil papel para os que vinham depois, Deerhunter, que nom podiam manter esse nível de intensidade. Nom sei mui bem como julgar o seu concerto; nom me causou mala impressom, mas sigo a pensar que som uma banda algo sobrevalorada. Até que ponto é normal que depois de escoitar vários discos seus e de tê-los visto já ao vivo (hai um par de anos em Paredes de Coura) nom consiga lembrar mais temas seus que o que levam toda a semana machucando em rádio 3? Gostei mais, mália nom conseguir acaba-lo, do menu eletrônico de James Blake, quem fechava a noite e com cujo trip-hop pletórico de elegância e emoçom fomos para a cama bem a gosto, despois de 9 horas de música.

Guadalupe Plata

Breeders

 a comer, a comer...

 Nick Cave

SEXTA-FEIRA, 31 DE MAIO

Este era o dia em que o festival despregava as velas a sério: o dia anterior havia só dous escenários, com os grupos alternando-se sem se solapar em nengum momento, mas hoje já eram quatro palcos e nom sempre era possível ver todo o que um queria. Isso si, a pontualidade de todos e cada um dos concertos foi sempre esquisita, tanto este dia como os demais. É quase difícil de acreditar que todo começasse sempre à hora (e ao minuto!), mas assi foi e hai que parabenizar à organizaçom. Por nom falar dos bocks de birra a 3.50 €, a amplitude de espaços e o de que regalaram manteis de quadros estilo picnic para poder tirar-se na erva bem a gosto... dixem já que hai que parabenizar à organizaçom?

si, tamém hai que parabenizar aos do sushi e os brownies...

Despois de duas horas de sesta, o primeiro grupo apetecível era OM, cujo doom me pareceu estranhamente acaído para abrir a tarde com calma. Lentitude, pesadez, baixos... todo perfeito. Nom os puidem ver inteiros porque se solapavam com Neko Case, que também merecia atençom. Vinha acompanhada duma banda ampla e competente, e tinha um subidom de açúcar e cafeína mui simpático. Rematou o concerto com “Hold on, hold on”, fermosa cançom que nom deve faltar nas antologias de americana da passada década. Vinha depois um dos pais do indie-rock gringo, Daniel Johnston, a quem escolhemos em lugar dos Local Natives que recomendara Moisés. Nom nos arrependimos da decisom, já que nem o acabado low-fi das suas canções nem o certo tremor com o que as interpretava eram impedimento para desfrutá-las. Mas houvo que deixa-lo a médias para irmos jantar, já que nom nos queríamos perder Swans, que tocavam depois e prometiam muito. Oes, caso digno de estudo o do grupo de Michael Gira: após um quarto de século sendo ignorados, de súpeto passam a receber os mais altos elogios dos mais modernos e hipsters, de rockdelux a pitchfork. Falta de critério, seguramente, porque o ruidismo infernal que praticam nom emociona tanto como proclama a crítica. De feito a sua atuaçom começou dum jeito em que pareciam querer expulsar ao público, e conseguírom-no em parte, ainda que foi ganhando em matizes segundo progressava. Grande contraste com o pop sofisticado de Grizzly Bear, um oásis para fazer a digestom tranquilamente antes dum trio de grupos de alta voltagem rock. Os primeiros, os clássicos Shellac, cuja descarga sónica já tivéramos ocasiom de apreciar na sala Mondo. Com estes já sabes o que hai, som a pura definiçom de todo o que é rock e nada mais que rock, como os Stooges pero mais novos. Claro que para novos, os rapazes de Metz, que referendárom a sua condiçom de serem uma das sensaçons da temporada. Punk arty cheo de intensidade e parece que tamém de talento; haverá que dar-lhe alguma escoita mais ao seu disco. O seu concerto nom o puidem ver inteiro—como quase todos os deste dia, por outra banda—porque queria ir ver aos Meat Puppets. Estes mitos do rock alternativo americano levam já 30 anos com a sua mistura de country, psicodelia e hardcore, ingredientes que combinárom com mestria em diferentes proporçons ao longo do concerto. Versões de “Hey baby que pasó” e “Sloop John B”, e uma cançom própria popularizarada por Nirvana, “Plateau”, que escoitamos mentres deixávamos o palco para ir ver a Blur. Os brits começarom forte, com “Girls and boys” (só faltava que nom fosse assi porque o que é hits tenhem de sobra)... ainda assi, para os que nom somos fans a cousa nom rematou de arrancar como devia, polo menos durante as primeiras canções, entre as que a mais conhecida era “Beetlebum”. Assi que, influído polos rumores que chegavam desde Barcelona, que diziam que Do Make Say Think deram ali um concertasso, optei por deixar a meias a Blur e ir por uma raçom de post-rock. Acompanhou-me o Javi, que poderá matizar o meu veredito, mas a verdade é que tampouco me impressionárom de mais. Seria tamém  hora, que nom ajudava...

 OM

 Neko Case (& cia)

Swans 

Metz 

Meat Puppets 

 Do Make Say Think

SÁBADO, 1 DE JUNHO

Dia de calor e carreirinha matutina polo litoral de Matosinhos, seguida duma boa enchente de frango na brasa das que só se podem papar em Portugal... e ao igual que o sargo do dia anterior, saindo a 9€ per cápita, ridiculamente barato. A sesta posterior tivo que ser curta, ou inexistente, porque Manel tocavam nada menos que às 17:55, e por alguma razom todos madrugamos para ir ver os catalães. Nom tem mal gosto o Guardiola, porque soam bem e tenhem autênticas pérolas pop como “Teresa Rampell”. A seguir tivemos que ver a Drones, nom havia alternativa, e já é má sorte porque nom nos convencérom muito. Todo o contrário que Dinosaur Jr, que tocárom um hit tras outro (Start Choppin’, Out There, The Wagon, Feel The Pain...) com ruído e fúria (bom, J Mascis com ruído e desgana, mas esse é o seu papel) e fôrom uns dos triunfadores do dia. Los Planetas, velhos conhecidos, precediam a Explosions In The Sky, outros que tal. Eu já tivera ocasiom de ver os texanos (‘olá, somos explosões no céu’) nos míticos concertos do cine Salesianos em Vigo e no nom menos mítico clube Vera de Groningen, mas tinha vontade de tripitir. Nom hai novidades na sua montanha russa post-rock (subida, baixada, planície, subida brutal de novo), nem falta que fai. A seguir enfrentávamos um dilema chungo: ou Liars ou Nurse With Wound. O sentido comum aconselhava o post-punk dos primeiros, mais que nada por evitar a raiada insufrível dos segundos. Mas o meu fanatismo por Current 93—grupo do qual Steven Stapleton, aka Nurse With Wound, é membro quase permanente e peça fulcral em muito do seu som—fijo que me decidira por estes últimos. Trabuquei-me. Nom só porque o camarada Steven optara por oferecer-nos um ambient bastante amorfo, senom porque o fijo a um volume tam baixo que era inevitável ouvir ao mesmo tempo o concerto dos Liars, no que foi seguramente o único falho da organizaçom em todo o festival. A gente fugiu antes de tempo, eu tamém, para colher sítio para o concerto de My Bloody Valentine. Os que conhecedes os meus gostos sabedes que MBV nom som o meu grupo favorito, mais bem parecem-me do mais sobrevalorado dos anos ’90, e bom, se depois de escoitar 20 vezes o Loveless tinha essa ideia, era complicado que um concerto ma mudasse. Ainda que podia passar. Mas nom passou. Soárom bem, si, mas para ícones noise-rock prefiro com muito a Dinosaur Jr, sem ir mais longe. Assi que deixei (deixamos) o seu concerto antes de tempo para ir ver a Titus Andronicus. Estes ianques praticam um punk-rock assi como springsteeniano, pletórico de energia e entusiasmo, tenhem boas ideias e sabem tocar... para o meu gosto faltam-lhe mais estribilhos tarareáveis, mas passa-me com muitos grupos.

Manel  

 Dinosaur Jr

Titus Andronicus


E assi demos por rematado este Primavera Sound, claramente dos melhores festivais aos que tenho ido... e o primeiro ao que assistiu a pitufinha, embora ainda na barriga da sua mãe. Isso é mal-acostumar-se desde antes do berço, e se todo vai bem a sua experiência de concertos continuará no próximo Sinsal... mau será que nom saia melómana!

acostumando à boa vida futura...

1 comentário:

Carminha disse...

Fantástico festival e fantástica compañía;-)