Um lenço com o patrom psiquedélico da portada do Merriweather Post Pavillion (2009) pendura ao fondo. Os teclados e maquinilhos vários estão cubertos por telas brancas sobre as que se projectarão formas e cores. Um gigantesco globo branco colocado com a mesma finalidade levita sobre o escenário. Todo preparado para uma das mais prometedoras experiências sensoriais que podemos pedir à música actual: um concerto de Animal Collective.
De esquerda a direita, colocam-se Geologist, Avey Tare e Panda Bear (Deakin segue de sabático), e começam a fuchicar nos cacharros. Já com o segundo tema, “Summer Clothes”, chega a primeira apoteose. O ritmo irresistível desta canção, a minha favorita do último disco, consegue pôr a toda a sala a bailar. E é que Animal Collective, em certa medida, estão a fazer música de baile, ou polo menos um dance pop genuinamente do s. XXI. E ao público encanta-lhe... é curioso como uma música tão original, persoal e intransferível pode conectar a este nível com tanta gente. Porque Animal Collective são verdadeiramente únicos, e ainda que quando os escoito não podo deixar de pensar “mas que doado... como ninguém provara a fazer isto antes?”, quando para a música penso “mmm... mas como era que faziam eles?”. E o que é que fam? Psiquedélia? Alt-folk? Electrónica? Post pop? Dança tribal? Nada disso, por suposto. Então... que? Melhor não pensá-lo muito e limitar-se a escoitar.
Outro momento cume da noite veu com “Peacebone”, o single de Strawberry Jam (2007). O grupo soubo espaciar moi bem alguns longos delírios instrumentais entre os temas de feitura mais pop, com o que o concerto fluiu sem costuras entre os estribilhos com resonâncias Beach Boys e os arrebatos de puro e gozoso ruído. A derradeira catarse tarareável chegou com “Brotherspost”, já nos (generosos) bises. Grande concerto, si senhor; quem queira saber mais ou menos como foi, pode escoitar aqui em NPR o podcast do show que dérom uns dias antes em Wahington DC. Eu ainda não o fixem, mas acho que foi bastante parecido.
P.S. 1. O teloneiro foi Grouper, um rolho moi, moi atmosférico, uma espécie de My Bloody Valentine em tranqui, sem ruido nem melodias. Si, já sei... é como dizer “nada”. Talvez por isso os únicos aplausos que escoitou foi quando se pirou. Não lamento ter chegado tarde à sua parte.
P.S. 2. O concerto foi na House Of Blues, um sítio bem curioso. Realmente são uma franquícia, tenhem várias salas similares por toda a geografia USA. Vão de autênticos (seica gardam uma caixa com lama do Mississippi baixo o escenário), mas para o meu gusto vai-se-lhes a pinça com caralhadas. Tenhem espaços para cear (bem caro, por suposto), e mesmo... para rezar! Mas logo não deixam entrar cámaras de fotos, nazis do caralho (Robert Johnson havia-os pôr de verão, se se erguesse da tumba). Eu de pardilho fixem caso à norma e não a levei, mas já vim que não é difícil meter uma, assi que para a próxima vez (que será em junho para TV On The Radio) haverá fotos próprias, se todo vai bem.