sábado, 26 de fevereiro de 2011

Mohamed Bouazizi, a faísca que prendeu



Estou viajando, mãe. Perdoa-me. A reprovaçom e a culpa nom vam ser úteis. Estou perdido e está fora das minhas mãos. Perdoa-me se nom figem como dixeras e desobedecim as tuas ordens. Culpa a era em que vivemos, nom a mim. Agora vou e nom vou voltar. Repara em que eu nom chorei e nom caíram lágrimas dos meus olhos. Nom hai mais espaço para reprovações ou culpa nesta época de traiçom na terra do povo. Nom me estou sentindo normal e nem no meu estado certo. Estou viajando e pido a quem conduz a viagem esquecer.
Mohamed Bouazizi

Quando Mohamed tinha apenas 3 anos morreu-lhe o pai. A sua família tinha poucos recursos, assi que aos 1o anos começou a trabalhar ao sair do colégio. Vendia frutas na rua, num carrinho, e sacava alguns quartos. Até o passado Dezembro. A policia confiscou-lhe o carrinho, afirmando que nom tinha licença para vender. Parece que realmente nom era precisa tal licença. Mohamed foi protestar ao governo regional, pedindo que lhe devolvessem o carrinho. Nom o escoitárom. Literalmente cuspírom-lhe na cara. Eram muitas humilhações, demasiadas já. Desesperado, comprou uma garrafa de gasolina, encharcou-se dela, e prendeu lume. Morreu depois de uma agonia de 18 horas.

O texto que abre esta postagem é o da derradeira mensagem que deixou no seu Facebook Mohamed Bouazizi. Mas a faísca que prendeu o lume que o matou prendeu também um lume muito mais grande. Um incêndio como havia tempo nom se lembrava. Uma revolução que tumbou o governo que o humilhara, e nom só. Quando escrevo isto o mundo árabe inteiro treme com as revoltas. Para conhecer essa parte da história, ide a OutraEsquerda.

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