domingo, 28 de dezembro de 2008

Nºs 1 em Arbolícia: My year in lists

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Ainda faltam alguns dias para que remate o 2008 e já levo escoitados mais de 40 discos publicados neste ano. Nunca tal me passara: som mais dado a pesquisar entre rarezas de décadas pretéritas, e a profundar no publicado ultimamente mais a posteriori, muitas vezes despois de ver com calma as listas de “o melhor do ano”. Mais este ano a conjunçom de dous factores -estar subscrito a rockdelux (si, confesso-o, este ano dei-lhes umha oportunidade) e poder desfrutar de qualquer disco com apenas uns clicks- fijo que caisse na tentaçom de estar ao tanto da mais raivosa atualidade.
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Por suposto, esta febre de baixar discos fai que à hora da verdade só escoite em profundidade umha minoria deles, e portanto qualquer tentativa de elaborar umha lista com critério dos mais destacados do ano é bastante ilusória. Ainda assi, e a jeito de resumo apressurado, ai vam algumhas impressões:
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Nom houvo disco de Arcade Fire que levar à boca, mais um bom sucedáneo foi o Little Death de Pete & the Pirates: estes ingleses conseguem compor hinos de pop eufórico (no disco hai quando menos meia dúzia) com tanta facilidade como os canadianos, ainda que nom espertem a mesma vaga de admiraçom generalizada. Quiçais o disco indie do ano em Arbolícia, na minha mui persoal opiniom... ainda que sei que tal honor corresponderia, de fazer umha enquisa, a Vampire Weekend: talvez mais originais que os anteriores (ainda que a tam traida coartada afro-pop parece-me mui exagerada) e igualmente efectivos. Outros grandes discos de pop no 2008 fôrom o de Port O'Brien (All we could do was sing), com esse temazo que é “I woke up today”; ou os dous de Los Campesinos! (Hold on now, youngster..., e outro mais que nom escoitei), bordeando o single da semana em cortes como “You! Me! Dancing!” ou o que dá título a este post. Algo menos popeiros som No Age, umha revelaçom para mim... e é que estes dous rapazinhos de passado punk se sacárom da manga um Nouns que é sério candidato a disco do ano: energia e melodias para criar canções sublimes como “Teen Creeps” ou “Eraser”.
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Ainda que se buscamos o hit da temporada hai que acudir, indiscutivelmente, aos MGMT, em cujo Oracular spectacular atopamos duas canções, “Kids” e “Time to pretend”, que som maravilhosas pílulas de eufória em estado puro, mui por em cima do nível do resto do álbum (que nom está nada mal, ainda que basicamente se dediquem a copiar a Bowie). Outros fabricantes de éxitos, mais neste caso sem um disco destacável, fôrom The Teenagers (“Homecoming” e “Starlett Johanson”). E, se os mencionados até agora soam tremendamente atuais, nom acontece o mesmo com a delícia retro (pop vintage circa 1960) do duo She & Him, Volume One. Mais retro ainda que o The Age of the Understatement de The Last Shadow Puppets, o disco que o ghicho de Arctic Monkeys sacou despois de (aparentemente) ter umha regressom temporal a 1966. Deixa-me, igual que o resto do material dos Monkeys, com a sensaçom de ter ouvido algo correto mais nom excepcional.
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Deixemos a um lado o indie pop mais “canônico” e abramos um pouco os ouvidos. Este foi sem dúvida um ano mui prolífico para a música mais “rarinha”, essa que mistura o pop ou o folk com qualquer cousa que leve o adjectivo “free”. Neste senso, hai que reconhecer que a labor desempenhada nos últimos anos por Animal Collective tem sido mui fecunda. Sem a sua influência quiçais nom existissem discos como o dos Evangelicals (mui grande The evening descends, um favorito que já temos louvado nestas mesmas páginas), o do singular duo The Dodos (o mui notável Visiter, ao que devo umha escoita mais demorada), ou qualquer do doblete dos seus paisanos High Places. Como tampouco existiria o Wagonwheel Blues de The War On Drugs, que conjuga americana e experimentaçom para se constituir num dos cumes do ano.
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Os próprios Animal Collective publicárom tamém material novo no 2008, ainda sendo um modesto EP, Water courses, que incluia material descartado do seu último disco (nada do outro mundo: hai que agardar polo seu seguinte longa duraçom). Tamém numha onda “experimental” -ou diriamos melhor, no seu próprio mundo- vivem Sígur Rós, cujo luminoso Med sud i eyrum vid spilum endalaust se aproxima ao pop sem perder nada do seu encanto. Bem polos islandeses. A cotas nom tam altas chegam o duplo Microcastle/Weird era cont de Deerhunter, o Heart of the sun de Pantaleimon ou 13 blues for thirteen moons dos Thee Silver Mount Zion (os quais ainda nom recuperárom a mágia de Godspeed You! Black Emperor, infelizmente).
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A veiga da Americana / Alt. Country e escenas folk relacionadas ofereceu umha boa colheita, como vem sendo habitual nestes anos. Entre o que ouvim salientaria três obras, começando pola que foi a história por excelência da temporada, o For Emma, forever ago de Bon Iver. Difícil resistir-se ao engado dum disco de ruptura sentimental confeccionado durante um duro inverno por um home só numha cabana de caça no meio do monte. Disco intenso e -mália o omnipresente falsete que pode cansar a alguns- redondo, dende a apertura com “Flume” (“I am my mother's only one / it's enough”) até a final “Re:Stacks”. Poderiamos seguir com Fleet Foxes, cujo sonado debut merece (quase) todos os elógios recebidos: se tiveram mais canções como “Your protector” já seria insuperável. E como ignorar o encanto tradicionalista dos Felice Brothers e o seu disco homônimo, onde esta entranhável família ressuscita o espírito -e a música- de The Band?
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Um curioso exemplo de disco conceptual (já com umha outra conceiçom do folk) temo-lo no Rook de Shearwater, críptico portador dumha suposta mensage ecologista afastada do especismo. Um trabalho bem especial, como tamém o é o Safe inside the day dumha Baby Dee a quem tivemos a oportunidade de ver ao vivo nessa primaVERA prodigiosa de Groningen (voçês já me entendem). Nengum destes dous chega ao nível dos três discos citados anteriormente, mais merecem umha escoita. E se falamos de Baby Dee é inevitável lembrar-se de amigos seus como Antony & The Johnsons (quem publicou o EP Another world) e Joan as Police Woman, (To survive) que nom estarám entre os vencedores do ano mais nem muito menos caem na categoria dos fracassos. E nom podemos fechar o capítulo folki sem lembrar que tivemos tamém disco de Micah P. Hinson, desta vez acompanhado no título pola Red Empire Orchestra. O nosso texano favorito é agora feliz junto à sua mulher e a vida sorri-lhe; isto nota-se na sua música mais nom tem por que ser algo mau: já nom nos sorprenderá como antes, mais polo de agora consegue manter o nível.
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Fóra de toda categoria está o disco de Crystal Castles. Nom se me ocorre mais que dizer que é umha obra sorprendente, impactante e refrescante, cujos sons parecem ter sido elaborados com máquinas “de marcianos” de salom recreativo. Escoitade a inicial “Untrust us” ou o éxito “Crimewave” e julgade por vós mesmos. Ao seu lado TV On The Radio parecem mesmo normais; claro que para eles o normal é seguir sacando discos como Dear science, que tenho pendente de escoitar em profundidade mais que apunta mui alto dende a primeira audiçom.
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Poucas incursões fixem no mundinho eletrônico, mais coido que as escolhim bem: London Zoo é um fantástico compéndio de música quente e bailável de agora mesmo (por muito que o queiram alcumar de dubstep, pouco tem a ver com propostas gélidas -se bem excelentes- como Burial: isto é mais dancehall de toda a vida). O seu autor, The Bug, é um velho conhecido da escena británica que reuniu muitas cartas ganhadoras e confeccionou este peassso vinilo que consegue dar continuidade aos logros alcançados por MIA em anos prévios. Nem a palavra eletrônica nem outras como trip hop servem já para descrever o que fam Portishead. Protagonistas de um dos retornos mais sonados dos últimos anos, com Third conseguírom de umha tacada o que parecia impossível: retomar o nível dos seus dous primeiros e fabulosos discos (publicados hai já mais de umha década), reinventar-se por completo... e seguir soando exactamente a Portishead. De expediente X.
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Tamém de expediente X é a capacidade que tem Nick Cave de encarnar o espírito do rock'n'roll canalha e selvage, afastado do papel de crooner adoptado em anos anteriores. O Dig, Lazarus, Dig! que sacou com os Bad Seeds é outra prova delo. A outros, por mais que me pese, nom lhes acontece o mesmo: e é que os meus queridos REM seguem que nem fu nem fa. Accelerate é a mostra de que conhecer a causa nom implica ser capaz de lhe por remédio: bom intento, chicos, de verdade que se nota e se agradece o esforço, mais... haverá que tentá-lo outra vez, pois este disco (que é melhor que o Reveal e o Around the Sun, certo) nom passa dum notável baixo e vós sodes capazes de muito mais. Outros ilustres veteranos acertárom algo mais, como de Jason Spaceman que com Songs in A&E nos trouxo de volta o evangélio Spiritualized com temas como “Sweet talk” (Rolling Stones circa 1969) ou “Soul on fire”. Por nom falar do nosso chamám favorito, Julian Cope, cultivador dumha espécie de paganismo anarquista à la Alan Moore que ainda alimenta a sua inspiraçom o suficiente para fazer discos como o generoso, em duraçom e inspiraçom, Black Sheep.
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Enfim, para nom deixar disco sem mencionar, aí estám o Attack & Release dos Black Keys (rock clássico setenteiro), o Saturdays = Youth de M83 (dream-pop oitenteiro), Rabbit habits de Man Man (estes inclassificáveis de Philadelphia ainda nom conseguírom igualar em disco a experiência dos seus diretos), The Bedlam in Goliath de The Mars Volta (outro disco que ganha ordes de magnitude ao vivo) ou o Cronolánea de Lori Meyers (quando se ponhem roqueiros quase poderiam lembrar a Los Enemigos... quase). Quentinhos, recém baixados, hai alguns com mui boa pinta: os de Walkmen (You & Me), Bowerbirds (Hymns for a dark horse), ou Jolie Holland (The living and the dead), por exemplo. Por nom falar de outros que estám ainda agardando, como os de Mogwai, Bloc Party, Oxford Collapse, Built to Spill, Okkervil River, Rokia Traoré... Ah, tantos discos e tam pouco tempo...
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