domingo, 23 de janeiro de 2011

Joanna Newsom (Vigo, 22/01/2011)

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Joanna Newsom, figura sobranceira da música indie na última década, foi o prato forte da novena edição do Festival Sinsal. Cumpre agradecer aos organizadores a escolha não só da artista, senão também do cenário - o teatro NovaCaixaGalicia - e a esquisita pontualidade com que se desenvolveu o concerto. Sem dúvida um exemplo a seguir.

A cantautora californiana vinha acompanhada de uma banda que incluía entre outros o baterista Neal Morgan (a quem já víramos tocando com Bill Callahan, e a quem reconhecemos polo seu costume de tocar descalço) ou o guitarrista Ryan Francesconi. Este foi também o teloneiro, papel no que se limitou a tocar a guitarra durante meia hora com gesto impassível... sem rastro de electrónica ou música balcânica, como prometiam na web de Sinsal. Tanto tinha, não era a el a quem vínhamos ver; e ademais durante o concerto principal deu em várias ocasiões o toque de qualidade. Engadir, por último, que a banda se completava com um trombonista e duas violinistas. E até aqui os prolegômenos...
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Tanto acompanhamento era necessário para reproduzir em condições o último e aclamado disco de Joanna, o triple LP "Have One On Me" (2010). Como era previsível, no concerto predominárom as canções incluídas nel, tal como a que lhe dá título ou "Good Intentions Paving Co.", ambas esplendidamente interpretadas. Tanta instrumentação, porém, sobrava à hora de acompanhar os temas do seu disco de debut, o "Milk-eyed mender" de 2004. Assim, a encantadora "Inflammatory Writ" (uma favorita persoal) não ganhou -ao meu modo de ver - ao perder a sua desnudez original. Mas é certo que noutros casos si que funcionou, e "Peach, Plum, Pear" brilhou com as novas sonoridades. Infelizmente, não visitou muito o devandito debut, o qual, por certo, é para mim o melhor que tem feito. Não comparto a opinião de que os seus posteriores esforços (muito mais "ambiciosos" formalmente) o superam.

A artista mostrava-se tão encantadora como esperávamos, ou mesmo mais. Ia alternando escrupulosamente a harpa e o piano, cambiando da uma para o outro ao remate de cada tema. Este patrão seguiu-no durante todo o concerto, no qual, evidentemente, tivo tempo para visitar também o "Ys", disco de 2006 no que se incluíam os quase 10 minutos de "Monkey & Bear". E para rematar o concerto, um único bis: "Baby Birch", do seu último disco. Uma interpretação na que só soárom a harpa, a voz de Joanna, e os esporádicos rasgueos de Ryan Francesconi na guitarra - ressaltando oportunamente alguma nota com o seu toque desértico. Uma maravilha para fechar uma noite de autêntico luxo musical.

sábado, 1 de janeiro de 2011

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Strange Boys



Foi um desses concertos a traição, imprevistos. Era sábado, 13 de Novembro, e eu baixara tomar algo com a escusa de ver um partido. Estava na Casa de Arriba com os outros dous futboleiros, Moi e Richi, e entre cerveja, gol e cerveja surgiu a ideia de ir ao concerto da Iguana. Tocava um grupo desconhecido para mim, uns tais Strange Boys. Moisés, como é habitual, falava maravilhas deles, e Juan uniu-se ao entusiasmo recomendando-os encarecidamente. Tampouco havia plano alternativo, assi que optei por fazer-lhes caso e alá fomos.

Os Strange Boys resultárom ser uns rapazes texanos dos que deveria ter ouvido falar... se este ano estivesse seguindo a atualidade musical com tanta atenção como outros (que não é o caso). Tampouco é que sejam nengum hype: certo é que aparecem entre os novos artistas recomendados polo Ruta 66 no seu número de 25 aniversário (o qual lim pouco despois de ir ao concerto), mas o seu disco de debut, "The Strange Boys and Girls Club" (2009) colheitou um discretamente favorável 7.1 em Pitchfork e nem apareceu entre os 50 melhores do ano na lista de Rockdelux. E o seu segundo LP, o editado neste 2010 "Be Brave", obtivo um ainda mais discreto 6.1 em Pitchfork.

Como ainda não escoitei os seus discos, não podo opinar sobre o justas ou injustas que são essas apreciações. O que si podo dizer é que a sua música é interessante, e o seu directo paga a pena. Suponho que a etiqueta que se lhes deve colocar é a de "garage", e dentro desta tiram mais em direção à psicodelia e as raízes (blues, r'n'b, country) que cara o punk ou r'n'r. Todo com um toque "weird", como corresponde a toda boa banda de Austin. Musicalmente, lembram-me bastante a The Woods, ou mesmo a The War On Drugs (hai por vezes um toque dylanesco). Quando se ponhem rockeiros podem soar um pouco a Kings of Leon... enfim, boas referências, como vedes.

Assi que de estilo bem... e do que realmente importa, que afinal são as canções? Pois cumprindo também, já que contam polo menos com um temazo polo que ser lembrados: o single que dá nome ao seu último disco, "Be Brave". Tampouco é que o resto do seu repertório resalte especialmente, ainda que falo só desde as primeiras impressões--veremos o que passa tras sucessivas escoitas. Evidentemente, do que tocárom ao vivo não reconhecim nada, a excepção de uma versão: a de "El cóndor pasa" que popularizaram Simon & Garfunkel.

Resumindo, um bom concerto que se desfrutou um chisco mais por imprevisto... mágoa que precisamente por isso não levara comigo a câmara, e não poida incluir nenguma foto original (conste que tínhamos boas vistas, tanto quando estivemos em baixo como quando subimos à parte superior). Isso si, se alguma vez consigo descargar as fotos do móvel (alguém tem um ordenata com bluetooth?) verei se hai alguma aproveitável... ;-)


sábado, 4 de dezembro de 2010

As primeiras neves em Paradela

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Este ano o inverno chegou com algumas semanas de adianto, propiciando a coincidência das primeiras neves com os primeiros chouriços: dous excelentes motivos para achegarmo-nos a este concelho, o nosso predilecto da terra de Sárria, no limite da Ribeira Sacra.

Prados nevados na parróquia de Castro de Rei de Lemos (I) ...

... e (II) ...

... e vista similar na de Andreade

sábado, 27 de novembro de 2010

Espertar contra o monstro



Venho de ler este fermoso artigo de Xoán Vázquez em Galicia Confidencial e não me resisto a reproduzi-lo aqui. Coido que hai razões de sobra, pois seu pai é, sem dúvida, gente de Arbolícia. Fazei-vos um favor e visitai o blogue do Xoán.

Meu pai, camiño dos 85 anos, criado baixo a crenza de que Franco era un santo cuxa inspiración esforzo e sacrificio habían salvado a España de caer nas gadoupas das forzas do mal, engadía o seu silencio de home convencido – polo o engano, claro - aos postulados dos acólitos do pro San Francisco Franco - arestora enredados noutros sacros oficios -, que xa finado o Caudillo nos presentaban feixes de probas e evidencias doutros tantos feixes de milagres atribuídos a aquela alma sacrificada, en vida sempre guiada por inspiración divina, para xa na morte ser tocada pola mesma man de Deus. Destinada, pois, a ser beatificada. Sendo do fecundo de milagres o máis grande o irrevogable feito de que salvou a España de caer nas ateas perversas e inmorais gadoupas dos comunistas, anarquistas e ateos que ameazaban con desanaquizala, guiándoa polos vieiros da perdición á destrucción moral. E reclamaban, con esa humildade que soamente os déspotas máis “puros” enxertados na arbore da hipocrisía mesquiña e pertinaz son capaces de profesar e proxectar, erguelo aos altares da devoción eternal. Que saiban os máis novos que non é ningunha lenda (o do San Francisco Franco), aínda eu me lembro cando algúns propuxeron canonizalo, non sei se antes ou despois de canonizar a Isabel e mais Fernando. Ao mellor o máis sabio e coherente houbera sido unha cerimonia unificada: aquilo do monta tanto.

Meu pai é un home bo, cun grande espírito de entrega e sacrificio. Pertence á colleita daqueles homes labregos que nunca souberon o significado da palabra “ética”. Nunca lles fixo falta sabelo, non souberon vivir doutra maneira. E por iso que podían ser enganados, que o foron, e traizoados, que tamén, mais nunca corrompidos, que endexamais. E tamén é por iso que non me sorprendeu que nestes últimos anos - por lóxica da vida xa con deixes a derradeiros -, e a medida que se foron facendo públicas as atrocidades do franquismo, o seu nobre espírito, sempre receptor á verdade, se for alimentando coas pequenas faíscas de luz que foron caendo naquel pozo de escuridade que desde rapaciño lle foron labrando para ser utilizado como un vertedoiro onde almacenar mentiras andrómenas e enganos; ou sexa, mansedume e obediencia.

Sentado nunca cadeira á mesa da cociña, envorcado sobre a baralla, seus cansos ollos de cando en cando enxergando o televisor que trataba o asunto dos desaparecidos na posguerra, memoria histórica e outras lerias. Naquel intre o reporteiro falaba concretamente da xente de ben que en Ferrol fora asasinada, de como algúns dos cadáveres foran amarrados uns aos outros e vertidos e afundidos no medio do mar para que nunca máis deles se soubera. Foi alí cando en soliloquio, sen erguer a cabeza nin mirar ao televisor, namentres descartaba se lle escapou da alma coma un reflexo espontáneo dun pestanexar perante un lixo inesperado e insolente aquilo de “… pero moita xente matou ese condenado...”. Rebotaron na miña cabeza aquelas verbas con esa forza sutil e apracible capaz de apagar tódolos outros moitos ruídos e facer que o tempo fique quedo namentres os tópicos agonizan. Olleino. Non dixen nada. Non quixen indagar no escoitado. Non sei nin se se deu conta do que dixo. Sei, e abóndame con iso saber, que meu pai xa non ha finar os seus días axeonllado nos altares do engano rezándolle ao monstro de Ferrol. E sei tamén, certo, que nunca é tarde para o desengano.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

The Zombies (Vigo, 11/11/2010)




The Zombies são uma banda inglesa de curiosa trajectória. Formados a começos da década dos '60, sacárom vários singles que chegárom a ser êxitos menores arredor de 1964/65. Era a época beat, e eles enquadravam-se mais ou menos nessa onda, se bem com alguns toques especiais. Em 1965 editárom o seu primeiro LP, onde basicamente se recompilavam os seus singles anteriores, e em 1967 gravárom a que seria a sua obra mestra, o disco "Odessey and Oracle": uma fermosa colecção de canções de pop barroco, com apenas algumas insinuações psicodélicas. Mas quando saiu ao mercado, em 1968, a banda já se separara. Assim que, mentres nas décadas seguintes "Odessey..." foi criando um culto crescente, eles não estavam ali para capitalizar esse êxito tardio. Mas, maravilhas do novo milénio, hoje podemos desfrutar dos Zombies ao vivo, e assim o figemos ontem na sala Mondo.

O concerto começou com tão só os dous líderes do grupo sobre o escenário. São uma parelha de contrastes: Colin Bluntstone (voz e aspecto cadavérico, escasos signos vitais) e Rod Argent (teclados e entusiasmo, principal referência sobre o escenário). Despois de tocar um par de temas que não figuram no seu repertório clássico, entrou o resto dos integrantes da banda. O som era correto, mas seguiam sem tocar temas reconhecíveis para mim. Isso si, o Rod Argent encargava-se de contextualizar cada um deles polo miúdo, destilando amabilidade no seu inglês bem inglês. Até que empalmárom 4 ou 5 temas seguidos de "Odessey & Oracle", começando por "A rose for Emily" e incluindo "Care of cell 44" (seica é a canção favorita de Dave Grohl). Soava bem, ainda que não chegavam a reproduzir o fantástico som do disco original.

Despois veu um repaso a alguns temas da sua primeira época, como o hit "Tell her no" ou uma das minhas favoritas, "Whenever you're ready". Soou também, como não, o "Time of the season". A estas alturas já estavam mais soltos, e nos obsequiárom com alguns desenvolvimentos instrumentais bem desfrutáveis. Para o final deixárom o que seguramente é a sua canção mais redonda, uma autêntica "nugget": uma pletórica interpretação de "She's not there". E voltamos contentos para casa (apesar de ter apoquinado 18.75€ por hora e pico de concerto numa sala petada de mais).

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

20 anos de Diplomáticos de Monte Alto





20 anos... arroutados!!

Estamos no tempo de... botar a vista atrás. Com a idade venhem as lembranças, e decatas-te de que um feixe de cousas que passárom na adolescência (os anos moços por excelência) acontecérom hai já "n" anos. E a mim, mália ir sempre de eclético, cosmopolita, original e indie/alternativo, se algo me tocou de perto (e penso que podo falar também polos meus amigos) naqueles anos '90, não foi tanto o grunge, nem a electrónica nem outras cousas igualmente interessantes. Foi o que passava aqui, no nosso bairro, na nossa aldeia, na nossa instância (persoal) do mundo (global) que nos acolhe. Vaia, tampouco me quero pôr pedante de mais... vamos, que se algo nos tocava a fibra circa 1994, isso era o que se deu em chamar Bravú. Que, se imos a isso, era bem eclético, cosmopolita, original e indie/alternativo, ainda que não saia nas revistas de tendências nem no rockdelux.

O ano passado comemoramos os 10 anos do disco dos Papaqueixos; algo antes reuniram-se os Rastreros... e esta volta tocava o 20 aniversário da banda bravú por excelência, os nossos Pogues, os nossos Mano Negra: os Diplomáticos de Monte Alto! Que já se juntaram recentemente para tocar no Reperkusión de Alhariz, mas coincidira com a despedida de solteiro de Paco e não puidéramos ir. Mas esta vez não havia grandes impedimentos, e puidemos dar-nos cita na Crunha, para inaugurar a sala Túnel (com entradas a 5€, esgotadas dende dias antes) nos baixos do Coliseum, no cada vez mais urbano bairro de Elvinha.

Hoje fum ao mundo inteiro





Xurxo Souto arenga à tropa da tralha

A jornada de festa começara muito antes de nós chegar: a Rota da Tralha percorreu “o mundo inteiro”, dende Monte Alto a Elvinha, descargando ao seu passo a Treboada Korunhenta. Bandeiras negras, megáfono e repichocas para tomar as ruas: party for your right to fight. Assi cantavam quando passavam os irmandinhos. Assi chegárom ao Coliseum, e alá entramos com eles no Túnel.



festa jarbanceira

O espírito do passaruas não se esvaeceu de vez: os Jarbanzo Negro não saírom ao escenário, senão que se metérom entre o público e começárom (ou seguírom, segundo se mire) a festa. Acompanhados por Xurxo Souto, movérom-se e movérom-nos cara adiante e cara atrás, e quando subírom ao palco a cousa seguiu polos mesmos derroteiros. Ainda que nunca me gustárom demasiado (comprei o seu disco e bem que me arrepentim), hai que reconhecer que ao vivo tenhem um passe. E o seu festivo turbo-folk fijo bem de aperitivo para o que estava por vir.


Kontra o mundo!




Carlos Blanco, o seu é provocar

Carlos Blanco foi o encargado de apresentar aos Diplos, e fijo-o bem: começou com um “Eu som de Vigho e do Selta”, por se havia algum despistado tentado de confundir orghulho local com tonteria localista. E a seguir, ¡por fim! Xurxo Souto, Rómulo Sanjurjo, Viascón, Mangüi e Guni, a formação clássica dos Diplomáticos de Monte Alto. Cinco karnotxos que já não são tão moços, mas não perdérom as forças – e muito menos as manhas:

San Furancho, O Incrible Bestilleiro, Gaiteiro, Atún, A Tropa da Tralla, Non Chas Quero, Platinos, Esta Noite Hei D'ir Aló, 120 Capadores, Mikaela, Mesejo, Terra Brava, Marujo Pita, Subhastado, Fura Futbolín, O Alcalde Morreu, Nordés, Tomás das Quingostas... decerto que deixarei alguma por citar; desculpai-me, mas a memória é limitada, e infelizmente a capacidade de reter momentos gozosos também o é. Que podo dizer? Todo soava igual de bem que nas nossas cabeças, cada canção era um hino que coreávamos de memória, os sorrisos, as miradas cúmplices e os vasos de cerveja alçados no ar deixavam bem claro que aquilo estava a resultar um concerto pletórico, desses que se lembram e se comentam sempre.

Korunha rabunha!

X.M. Pereiro: Cha-cha-cha-cha-cha-cha!!

Dixeram que não iam dar um concerto de reunião emotivo, desses nos que continuamente estão a subir velhos amigos ao escenário e os discursos entorpecem o show. E abofé que cumprírom o propósito, pois aquilo foi uma descarga de tralha sem descanso. Mas si que houvo, polo menos, ocasião de viver um momento único: quando um Xosé Manuel Pereiro visivelmente emocionado apareceu para cantar dous temas que os seus Radio Océano legaram à posteridade: a sua versão de “Como o vento” (originalmente dos portugueses Sétima Legião, posteriormente recuperada polos Diplos em Avante Toda), e a peça da sua colheita “Terra Chá”.



“Ai vai”, a peça que os Diplomáticos tomaram prestada dos Carayos (aquela banda que Manu Chao tinha à margem de Mano Negra), foi adotada como espécie de sintonia de continuidade, e tocada com ímpeto e brevidade como uma dúzia de vezes, para dar passo em cada ocasião a uma nova descarga de energia. (Penso que tocárom também algo do Komunikando, o disco que sacárom sem Souto nem Mangüi e que talvez nunca deveu existir, mas não sejamos maus: seguramente era necessário). Apropriadamente, rematárom com Aí Vos Quedades (entre curas, frades e militares!), e deixárom para o bis uma das suas canções que melhor resiste o passo do tempo: Estrume, essa colaboração com Xan que tantas vezes temos ouvido ao vivo.

Enfim, vemo-nos dentro de 20 anos, se é que antes não tronza o universo!!!

sábado, 30 de outubro de 2010

Cies


Não era a primeira vez que visitávamos as Cies, nem tampouco a primeira vez que lhes fazíamos um oco nestas páginas. Confio em que não será tampouco a última: visitas breves como esta não saciam a sede.





segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Fontaneiro sem auga



Um texto de Sara Cuesta publicado originalmente aqui.

Francisco Dopico nunca soubo o que é ter auga corrente em casa. Exatamente os 68 anos que tem de vida. Os mesmos que leva residindo na corunhesa rua de Puerto Rico. «Coido que atualmente devo ser o único habitante de toda a cidade que não tem auga», afirma. A guinda a esta situação po-na a sua profissão: é fontaneiro. A sua casa está situada numa zona do bairro de Vionho na qual outras velhas construções como a sua estavam na mesma situação há uma década. No entanto, a dia de hoje, Francisco é o único que continua vivendo ali. «Hai vizinhos que vivem ao outro lado da rua que não tenhem sumidouro, mas polo menos eles podem-se banhar sem ter de ir à fonte», comenta. E é que Francisco tem que ir com cubos a buscar auga a um manancial que está próximo à sua casa, na qual vive de aluguer hai mais de três décadas.

Em certo sentido poderia-se dizer que o de viver sem auga corrente «é uma tradição familiar», chancea. E é que os seus pais viveram toda sua vida sem o líquido elemento, noutra vivenda da mesma rua Puerto Rico, onde se criaram el e as suas irmãs. Quando casou, hai 36 anos, Francisco mudou-se com a sua mulher a uma casa próxima. Ali vivírom toda a sua vida e «ali medrou o meu filho», ao que tinham que banhar «a base de caldeiros, aquecendo a auga por tandas», lembra Francisco algo nostálgico.

A pesar de viver em condições mais próprias do medievo que do século vinte e um, Francisco é um homem alegre que assume a sua situação com humor. «Sou o único que resiste, e aqui sigo. Que remédio. Se tivesse dinheiro para comprar-me outro apartamento não estaria aqui, mas não o tenho», comenta. «Eu não sei o que é ter uma casa com auga. É uma desgraça, mas a vida é assim», afirma com resignação. Isso sim, de tubagens e bilhas sabe muito. Mas já se sabe, «em casa do ferreiro coitelo de pau», comenta antes de lembrar com tristeza que a sua mulher, já falecida, «sempre sonhou com viver num apartamento com auga».

sábado, 21 de agosto de 2010

Public Enemy (Castrelos, Vigo, 5 de Agosto de 2010)




Yeeeaah, boooyyyee! A mais grande banda de hip hop da história visitou Vigo para descargar duas horas de música sem interrupções, sem mais "descansos" que os os reservados para as exibições individuais de DJ Lord aos pratos e de Flavor Flav à bateria. Toneladas de atitude, entrega e experiência que começaram já desde a saída, com os dous MC's plenamente motivados e um apropriado "Brothers gonna work it out". Seguírom com "911 is a joke", e já parecia que iam tocar inteiro o Fear of a black planet (1990)... mas aginha caírom os dous temazos da sua obra mestra It takes a nation of millions to hold us back (1988): "Bring the noise" e "Don't believe the hype".


Flavor Flav, o showman...

Estávamos na 2ª fila quando começou o festival de saltos. Mágoa que a cámara de fotos estivesse já sem bateria, porque não todos os dias pode um receber o impacto de Flavor Flav! Velaí um ghicho de 51 tacos que não vacila em guindar-se sobre o público uma e outra vez... e é que PE em escena são coerentes com a mensagem que transmitem nos discos: a sua ética é a de The Clash e, ao igual que eles, não só predicam unidade e revolução, senão que tentam levar à prática a premissa de que não deve haver distância entre público e artista. Todos somos parte do show.



... Chuck D, o punho em alto...

Um show que inclui todo o esperado e mais. No primeiro apartado incluiríamos as coreografias a cargo da peculiar S1W (Security of the First World), um corpo de guarda-costas/bailarins de estética paramilitar que nos obsequiárom com curiosos passos de baile. Ou o de sacar o radiocasette oitenteiro, ou o sempiterno relógio de Flavor Flav. No segundo apartado poderíamos meter o de que saíssem com as camisolas da seleção espanhola de futebol, mal vício no que caera também Patti Smith. Claro que, ao igual que a sua vizinha neoiorquina, os de PE também o compensárom com outros gestos; neste caso, o comentário de Chuck D "we know you are fighting for independence..." e de que, se não nos dão o que queremos, temos o direito a reclamá-lo (puro PE).


... e DJ Lord ao control

O espectáculo estava indo mui bem, agás por um "pequeno" detalhe: o som era terrível. Ainda sabendo quase de memória a maior parte das canções custava reconhecé-las ao começo, e a letra muitas vezes havia que intui-la. Em busca de uma melhora movemo-nos um pouco cara atrás, mas o som pouco melhorou. Uma mágoa, porque o que puido ser um concerto memorável ficou lastrado por algo tão estúpido como um problema técnico.


Com o loro, e o guarda da S1W ao fondo

Eles seguiam ao seu, felizmente, e os hits iam caindo um tras outro: um oportuno "By the time I get to Arizona", o emblemático "Fight the power" com o que pensei que finalizariam o concerto (mas ainda quedava muito mais), outro tralhazo como "Can't truss it", "She watch channel zero", "Give it up" (creo lembrar, mas agora nem estou seguro)...



Guitarra!

Mesmo houvo tempo, como dissemos, para escoitar um longo solo de bateria de Flavor Flav, ou um tema integramente com guitarra-baixo-bateria. Porque PE não é uma simple banda de hip hop; di um estilo e eles fam uso del: rock, metal, funk, soul (o da canção que se deixárom no tinteiro: a "He got game", toda a noite agardando por ela, mágoa)... e rematárom o concerto com as arengas de paz e amor de Flavor Flav mentres de fondo soava o reggae de "One Love", de Bob Marley & the Wailers.



O coletivo LicorKafe.

Figeram de teloneiros vários rapeiros locais: o colectivo Licor Kafé e outros. Algumas táboas vão tendo, mas em geral... pouco que rascar. Vale que os rapazes (que não são tão rapazes: El Puto Coke é da nossa quinta) lhe botam vontade, mas parece-me que a estas alturas da película a escena viguesa deveria dar para algo mais. Polo menos para chegar ao nível da de Ordes... ;-)