quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Steve Wynn is back in Vigo!

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“Esta es una canción muy viejo... no, poco viejo... bueno, ¿qué es viejo?”
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Mr. Wynn & Mr. Cacavas

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Esta frase com que Steve Wynn introduzia, num voluntarioso castelhano, “That's what you always say” (do seu disco de debut com The Dream Syndicate, “The Days of Wine and Roses” -ano 1982: já choveu) tivo uma rápida e certeira resposta: desde a primeira fila, um fan de toda a vida retrucou “¡YO soy viejo!”
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As persoas envelhecemos, a música nom tanto. E alguns músicos parecem burlar esta lei universal, nom hai mais que olhar para a cara de rapazolo do próprio Steve, ou à forma em que Chris Cacavas (para sempre “o ex-Green On Red”) disfruta como um adolescente que ainda está aprendendo a tocar a guitarra.
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De certo que o concerto do 5 de fevereiro na sala Mondo veu apoiar esta tese. Estivo centrado basicamente no último disco de Steve Wynn, “Crossing Dragon Bridge” (2008), gravado em Ljubljana às ordes de Chris Eckman -o americano europeizado que fora cabecilha dum dos mais infravalorados grupos dos '90, The Walkabouts-, e que nos mostrava um Steve Wynn num registro ligeiramente mais tranquilo do habitual, mas em plena forma criativa.
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Ao igual que o disco, o show abriu e fechou com as duas partes de “Slovenian Rhapsody”. Entre elas puidemos escuitar alguns médios tempos, como a fermosa “Fault Manhattan Line” -talvez a melhor cançom desse álbum-, mas tamém outras mais electrificadas como os clássicos da era Dream Syndicate “Medicine Show” ou, como nom, “The days of wine and roses” -uma vaza segura para os bises.
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O momento simpático veu com “Punching holes in the sky”, outra das novas composições de ar folk, quando Mr. Wynn baixou do escenário para se pôr a cantar entre o público, micro de pé incluído. E, tras animar ao resto da banda a fazer o mesmo, o gesto virou num original mutis cara o backstage sem que parasse a música.
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Nos 100 minutos de concerto houvo mais simpatia e entrega (a solvência e o repertório já se lhes supunha, melhor dito, se lhes conhecia) da que seria a priori exigível a um par de fulanos que cargam desde hai tempo com a etiqueta de “clássicos do rock americano”. Steve e Chris lembrárom as boas noites passadas em Vigo (já passaram pola Iguana), amosárom-se felizes de estarem de novo por aqui, fixérom que nos preguntássemos que significa ser velho para os parámetros do r'n'r, e, o mais importante, lográrom convencer-nos de que nom fizeramos o parvo por apoquinar os 18 € da entrada.

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domingo, 15 de fevereiro de 2009

Costa da Vela, 14 de fevereiro de 2009

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Corga de subida ao Monte Facho
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Pedra lavrada
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A Ponta de Cabo Home
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Castros
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Vista geral do santuário
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Ons
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Cies
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Praia de Melide
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Pinheiral
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UK Subs + Vibrators

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(em breve engadiremos fotos...)

O punk nom morreu!! Só engordou, hahaha (veja-se a Charlie Harper, vocalista dos UK Subs)... mas segue igual de divertido, estúpido e estimulante coma sempre. Dade-me umas birras e algo que poda poguear, e por mim já vai bem. Para mostra, o concerto ao que assistimos Jose Antonio e mais eu o passado 30 de janeiro, na Fábrica de Chocolate.

Nom me colhia dúvida, antes de ir, de que os cabeças de cartel eram os Vibrators: tiveram singles de autêntico éxito e foram, em certa maneira, uns dos precursores na New Wave já em 1977. Pola contra, UK Subs nom foram mais que uma banda punk de 2ª fila e os seus méritos “artísticos” foram a todas luzes inferiores. Está claro que nom tinha nem puta ideia, pois nom só fôrom the Vibrators os primeiros em tocar, senom que a resposta do público foi muito mais entusiasta com UK Subs. Se o pensas, é lógico: estes últimos tenhem resistido em activo durante todos estes anos (o que resiste ganha), virando “clássicos” do punk e conquerindo uma renovada base de fans com a incorporaçom do sangue novo da rapazada redskin-punkarra de hoje em dia.

Nom por isso os Vibrators se dérom por vencidos, e nos obsequiárom com o melhor do seu repertório: a jóia power-pop “Baby Baby”, que os mesmíssimos REM versionearam, o tralhazo “Yeah yeah yeah” -ambos do seu debut de 1977, “Pure mania”-; “Troops of tomorrow” -de “V2” (1978), incluída recentemente na BSO de “This is England”-; ou o single de 1980 “Disco in Mosco”. Conclusom: separaram-se a tempo (que pintariam senom nos '80, de seguir em activo?), mas antes deixárom um legado importante e mui reivindicável, tam só com um par de discos. De postre, nos bises, uma furiosa versom de “Brand new cadillac” via The Clash. Um aplauso!

Esta convincente actuaçom nom foi, já digo, tam valorada polo público como a dos UK Subs. Os autores de “I live in a car” montárom uma festa Oi! desde o primeiro minuto, transformado as primeiras filas num espaço no que manter o equilíbrio podia ser tarefa difícil. Mália nom conhecer a sua discografia polo miúdo, disfrutei como um anano ao som de temas como "Barbie's dead" (de Brand New Age, 1980) ou o que seguramente é o seu hino, a estupenda "Teenage". E, ao igual que os anteriores, estes também reservárom um clássico para os bises, neste caso o "Waiting for the man" da Velvet Underground.
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Em resumo, uma brutal sessiom de punk-rock que deixou os nossos ouvidos emitindo pitidos durante um par de dias. Mas mereceu a pena, já estamos para outra!
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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Matilde em Redes

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No 2006 estava eu cursando o programa de doutoramento em Engenharia de Sistemas e Automática, impartido conjuntamente pola Complutense e mais a UNED. Escolhera, entre outros, o curso "Control Inteligente", impartido por Matilde Santos. O tema era motivador (muito me interessam essas cousinhas), as aulas amenas e a professora simpática, assi que fora uma matéria bem aproveitada. De feito, ao rematar o curso apresentara conjuntamente com Matilde uma comunicaçom nas XXVII Jornadas de Automática, celebradas aquel ano em Almería (o livro de actas, aqui). Pois bem, venho de saber que Matilde tivo já os seus cinco minutos de glória televisiva que pedia Andy Warhol, falando de inteligência artificial e essas ervas... e em Redes, nada menos! Desde aqui, parabens e... eis o vídeo:


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sábado, 31 de janeiro de 2009

O Bicho

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Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
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Manuel Bandeira (1886-1968)
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quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Armillarias no jardim

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Era visto. Os gnomos do jardim nom podiam tardar em construir as suas próprias casas. Habilmente camufladas como cogumelos comuns, mas nom enganam ao olho experimentado.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Calexico (e algumas outras lembranças)

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Hai mais de 40 anos que os californianos Love introduziram ventos mariachis no pop/rock; o resultado foi uma das canções mais bonitas de todos os tempos, "Alone again or". Parece raro que essa via nom tenha sido mais explorada desde aquela. Um dos poucos que se animam a elo, e com bastante acerto, é a banda de Tucson Calexico. Por isso foi um bonito detalhe que remataram a primeira parte do seu concerto versioneando, precisamente, "Alone again or".

Foi o passado 16 de janeiro de 2009, no teatro Caixanova em Vigo - uma fantástica sala cuja única pega é... que é um teatro, e portanto hai que estar sentado, nom vendem cerveja, nem se pode fumar. Mas estes som pequenos inconvenientes quando a câmbio se pode desfrutar de um som impecável e uma boa vista do escenário. Agradece-se especialmente a possibilidade de desfrutar em boas condições das sonoridades de uma banda como Calexico, que incluindo guitarras, contrabaixo, bateria, vibráfono ou trompetas pom todo o empenho em regalar-nos as orelhas com matizes. Como dixo o cantante, um loquaz Joey Burns, "If we could bring more instruments, we would. But we can't". Por certo, apesar do carácter fronteiriço da banda, que inclui recitados em castelhano nalguns temas, Joey nom sabe mais que umas poucas palavras nesse idioma. E nom me sorprende, é que os gringos som assi.

Enfim, todos estes ingredientes fôrom misturados com acerto e precisom, num concerto pletórico e convincente que nom chegou ao tédio em nengum momento. Nom se notou a "intrusom" de Depedro, o teloneiro que se excedeu no seu papel e participou do concerto como um membro mais: mui generosos fôrom os de Calexico com el, pois o escenário lhe vinha grande e às vezes nom sabia onde meter-se. E olho, que tamém o acompanhárom durante parte da própria actuaçom de Depedro, dotando as suas canções dum empaque instrumental que ainda assi nom as salvava: lembra a Pau Donés, imaginem-se.

Mas aqui estavamos para falar de Calexico. E Calexico o que fixo foi repasar a consciência a sua discografia, sem obviar os (poucos, esse é o seu ponto fraco) dos seus temas que resultam verdadeiramente memoráveis. Assi soárom as minhas favoritas, como as incluidas no seu último disco Carried to Dust (2008): "House of Valparaíso" ou "Two Silver Trees", esta com uma fermosa explicaçom sobre o seu título -um verso dum poeta vezinho, sacado do seu contexto original. Tamém hinos anteriores como "He lays in the reins", que perde algo, inevitavelmente, sem a participaçom de Iron & Wine. Esta reservarom-na para o segundo bis, i é que o concerto foi longo para o que se estila hoje em dia e chegou aos 100 minutos. Assi dá gusto!

Nota:

Agora que fago memória lembro outras duas visitas, relativamente recentes, de autênticos monstros da música americana atual. As duas, por alguma razom (basicamente: a preguiça e a falta de fotos com as que acompanhar a crónica) nom fôrom resenhadas neste blog, que deixou assi de cumprir uma das suas funções: a de fazer de pequeno diário onde anoto as minhas experiências musicais. Polo menos mencionarei-nas agora, já que é um chisco tarde de mais para fazer a crónica: foram os concertos de Vic Chesnutt + Elf Power (19 de setembro de 2008), e Bonnie Prince Billy + Faun Fables (3 de abril de 2007, uma crónica aqui). Ambos programados nalguma ediçom do Festival SinSal, ao que tantos bós momentos lhe temos que agradecer. Estiveram mui bem, e curiosamente, ao igual que no de Calexico, em ambos o papel dos teloneiros nom se limitou a tocar antes que o artista principal, senom que tamém o acompanhárom sobre o escenário. Com melhores resultados que Depedro, todo hai que dizé-lo.

Infelizmente, nom cheguei a tempo de ver a Elf Power -uma banda que me encanta, ao igual (pero mais) que outras do colectivo Elephant 6. Vinha de viagem desde Murcia, e sorte tivem que o aviom nom tivo apenas retraso e cheguei para ver a Vic, um fenómeno. Bom concerto, abofé. E ainda melhor, se cabe, foi o de Bonnie Prince Billy, do que curiosamente lembro maiormente anécdotas extramusicais: uma, que Faun Fables (por certo, uma revelaçom de grupo: realmente especiais, valem a pena) começaram a sua atuaçom cantando a capella desde o corredor central do teatro. E outra, as explicações de Will Oldham entre cançom e cançom, nom exentas de humor. Como quando contou o chiste sobre o Ohio River: apresentara "Ohio River Boat Song" -um clássico tema dos primeiros Palace Brothers-, e alguém desde o público berrou "Uou! Ohio!". El aclarou que nom era Ohio, senom o Ohio River: o rio que separa o estado de Ohio (ao N.) do de Kentucky (ao S.). E, oriundo de Kentucky como é, lançou a pulha, com jogo de palavras incluído: "Do you know why Kentucky doesn't fall from the map? Because Ohio sucks". Isto é apenas uma anécdota, por suposto. O importante é que o concerto fora grandioso, pois o cancioneiro de Mr. Oldham é já um cordal inçado de cumes e com o seu talento interpretativo lhe sobra com uma guitarra para remover-nos os alicerces. E se o fai acompanhado de uma voz como a de Dawn McCarthy, ainda melhor.
Ai... e já vam quase dous anos desde isso... como passa o tempo!

domingo, 11 de janeiro de 2009

De como Pedro e Violante perdérom a sua casa

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(Ou de como o tijolo sempre ganha)

A horta de Murcia está infestada de apartamentos. Casas como a de Pedro e Violante, com limoeiros, galinhas e coelhos, estão "chamadas a desaparecer", como afirma o Concelho de Murcia. Pedro e Violante, de 89 e 84 anos, acabam de perder, após meses de batalha judicial, o direito a seguir na vivenda que habitam desde 1946. A Seção Primeira do Contencioso do Tribunal Superior de Justiça de Murcia corrigiu ao juiz que lhes dera permisso para seguir ali porque num apartamento -onde os realojava o consistório- perigava a sua saúde.


No passado mês de Novembro, Pedro Camacho explicava na sua casa como em 1973 foi operado em Barcelona. Num passeo polo hospital subiu a um elevador. "Fum para cima e para baixo até que alguém me ensinou a sair. Não voltei a subir a um." Sempre tem vivido numa casa baixa, na horta. Mas o município planificou através desta uma avenida de seis vias, de importância vital para os milhares de casas da área.

O 26 de abril de 2006, a cidade acordou expropriar os 232,05 metros quadrados da casa de Pedro e Violante. Foi taxada em 163.034 €, com o que deviam pagar um aluguer por 18 meses e com o restante poderiam optar a um apartamento protegido.

O 10 de maio de 2007, os técnicos deram-lhes cinco dias para despejar a casa. Começavam as obras. No dia 14 de setembro, com o trâmite de expropriação avançado, o seu advogado, Eduardo Salazar, provou uma manobra à desesperada: pediu parar a expropriação por motivos de saúde. Apresentou um relatório médico sobre os octogenários. Padeciam uma "sintomatologia ansioso-depressiva: pensamentos recorrentes e intrusos sobre a expropriação, falta de apetito e alterações do sonho, oscilações anímicas, mostram-se assustadiços, com sensação de irrealidade". Pedia que em vez de um apartamento, o concelho lhes desse "uma casa parecida, humilde mas na horta". O juiz, numa decisão surpreendente -por humana- deu-lhes a razão o 2 de novembro e paralisou o realojo. Desde então, a sua casa é uma ilha num mar de guindastes. O concelho recorreu ao Tribunal Superior: "Está-se condenando ao concelho a buscar casa na zona, cousa difícil já que é uma zona de crescimento da cidade, onde as vivendas de similares características estão chamadas a desaparecer".

O tribunal, numa sentença notificada na quarta-feira, deu a razão ao consistório. Mesmo que admite que "o abandono de sua vivenda pode ocasionar prejuízos" à parelha, sinala que a "vivenda foi expropriada e necessariamente hão de abandoná-la". A sala pide que sejam os familiares os que lhe busquem "uma vivenda similar". "Não parece que mantê-los numa vivenda numa zona em obras contribua a essa forma de vida que é conveniente à sua idade e circunstâncias". Além disso, destaca o "prejuízo ao interesse geral" que estão ocasionando Pedro e Violante.

Contra a sentença não cabe recurso e Pedro e Violante devem pagar as custas do procedimento. A sua família explicou ontem que conseguir uma casa semelhante custaria mais dinheiro do que recebérom porque é preciso comprar uma taúlla* de terreno. "Eles estão abatidos. Sentem-se humilhados. Pedro di que parece que estamos nos tempos de antes," explicou um parente. O tijolo volta a vencer.


*: Unidade de medida de superfície própria da regiom murciana, equivalente a um par de ferrados [Nota do T.].

Originalmente publicado em El País. Tradução própria.

domingo, 28 de dezembro de 2008

Nºs 1 em Arbolícia: My year in lists

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Ainda faltam alguns dias para que remate o 2008 e já levo escoitados mais de 40 discos publicados neste ano. Nunca tal me passara: som mais dado a pesquisar entre rarezas de décadas pretéritas, e a profundar no publicado ultimamente mais a posteriori, muitas vezes despois de ver com calma as listas de “o melhor do ano”. Mais este ano a conjunçom de dous factores -estar subscrito a rockdelux (si, confesso-o, este ano dei-lhes umha oportunidade) e poder desfrutar de qualquer disco com apenas uns clicks- fijo que caisse na tentaçom de estar ao tanto da mais raivosa atualidade.
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Por suposto, esta febre de baixar discos fai que à hora da verdade só escoite em profundidade umha minoria deles, e portanto qualquer tentativa de elaborar umha lista com critério dos mais destacados do ano é bastante ilusória. Ainda assi, e a jeito de resumo apressurado, ai vam algumhas impressões:
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Nom houvo disco de Arcade Fire que levar à boca, mais um bom sucedáneo foi o Little Death de Pete & the Pirates: estes ingleses conseguem compor hinos de pop eufórico (no disco hai quando menos meia dúzia) com tanta facilidade como os canadianos, ainda que nom espertem a mesma vaga de admiraçom generalizada. Quiçais o disco indie do ano em Arbolícia, na minha mui persoal opiniom... ainda que sei que tal honor corresponderia, de fazer umha enquisa, a Vampire Weekend: talvez mais originais que os anteriores (ainda que a tam traida coartada afro-pop parece-me mui exagerada) e igualmente efectivos. Outros grandes discos de pop no 2008 fôrom o de Port O'Brien (All we could do was sing), com esse temazo que é “I woke up today”; ou os dous de Los Campesinos! (Hold on now, youngster..., e outro mais que nom escoitei), bordeando o single da semana em cortes como “You! Me! Dancing!” ou o que dá título a este post. Algo menos popeiros som No Age, umha revelaçom para mim... e é que estes dous rapazinhos de passado punk se sacárom da manga um Nouns que é sério candidato a disco do ano: energia e melodias para criar canções sublimes como “Teen Creeps” ou “Eraser”.
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Ainda que se buscamos o hit da temporada hai que acudir, indiscutivelmente, aos MGMT, em cujo Oracular spectacular atopamos duas canções, “Kids” e “Time to pretend”, que som maravilhosas pílulas de eufória em estado puro, mui por em cima do nível do resto do álbum (que nom está nada mal, ainda que basicamente se dediquem a copiar a Bowie). Outros fabricantes de éxitos, mais neste caso sem um disco destacável, fôrom The Teenagers (“Homecoming” e “Starlett Johanson”). E, se os mencionados até agora soam tremendamente atuais, nom acontece o mesmo com a delícia retro (pop vintage circa 1960) do duo She & Him, Volume One. Mais retro ainda que o The Age of the Understatement de The Last Shadow Puppets, o disco que o ghicho de Arctic Monkeys sacou despois de (aparentemente) ter umha regressom temporal a 1966. Deixa-me, igual que o resto do material dos Monkeys, com a sensaçom de ter ouvido algo correto mais nom excepcional.
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Deixemos a um lado o indie pop mais “canônico” e abramos um pouco os ouvidos. Este foi sem dúvida um ano mui prolífico para a música mais “rarinha”, essa que mistura o pop ou o folk com qualquer cousa que leve o adjectivo “free”. Neste senso, hai que reconhecer que a labor desempenhada nos últimos anos por Animal Collective tem sido mui fecunda. Sem a sua influência quiçais nom existissem discos como o dos Evangelicals (mui grande The evening descends, um favorito que já temos louvado nestas mesmas páginas), o do singular duo The Dodos (o mui notável Visiter, ao que devo umha escoita mais demorada), ou qualquer do doblete dos seus paisanos High Places. Como tampouco existiria o Wagonwheel Blues de The War On Drugs, que conjuga americana e experimentaçom para se constituir num dos cumes do ano.
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Os próprios Animal Collective publicárom tamém material novo no 2008, ainda sendo um modesto EP, Water courses, que incluia material descartado do seu último disco (nada do outro mundo: hai que agardar polo seu seguinte longa duraçom). Tamém numha onda “experimental” -ou diriamos melhor, no seu próprio mundo- vivem Sígur Rós, cujo luminoso Med sud i eyrum vid spilum endalaust se aproxima ao pop sem perder nada do seu encanto. Bem polos islandeses. A cotas nom tam altas chegam o duplo Microcastle/Weird era cont de Deerhunter, o Heart of the sun de Pantaleimon ou 13 blues for thirteen moons dos Thee Silver Mount Zion (os quais ainda nom recuperárom a mágia de Godspeed You! Black Emperor, infelizmente).
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A veiga da Americana / Alt. Country e escenas folk relacionadas ofereceu umha boa colheita, como vem sendo habitual nestes anos. Entre o que ouvim salientaria três obras, começando pola que foi a história por excelência da temporada, o For Emma, forever ago de Bon Iver. Difícil resistir-se ao engado dum disco de ruptura sentimental confeccionado durante um duro inverno por um home só numha cabana de caça no meio do monte. Disco intenso e -mália o omnipresente falsete que pode cansar a alguns- redondo, dende a apertura com “Flume” (“I am my mother's only one / it's enough”) até a final “Re:Stacks”. Poderiamos seguir com Fleet Foxes, cujo sonado debut merece (quase) todos os elógios recebidos: se tiveram mais canções como “Your protector” já seria insuperável. E como ignorar o encanto tradicionalista dos Felice Brothers e o seu disco homônimo, onde esta entranhável família ressuscita o espírito -e a música- de The Band?
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Um curioso exemplo de disco conceptual (já com umha outra conceiçom do folk) temo-lo no Rook de Shearwater, críptico portador dumha suposta mensage ecologista afastada do especismo. Um trabalho bem especial, como tamém o é o Safe inside the day dumha Baby Dee a quem tivemos a oportunidade de ver ao vivo nessa primaVERA prodigiosa de Groningen (voçês já me entendem). Nengum destes dous chega ao nível dos três discos citados anteriormente, mais merecem umha escoita. E se falamos de Baby Dee é inevitável lembrar-se de amigos seus como Antony & The Johnsons (quem publicou o EP Another world) e Joan as Police Woman, (To survive) que nom estarám entre os vencedores do ano mais nem muito menos caem na categoria dos fracassos. E nom podemos fechar o capítulo folki sem lembrar que tivemos tamém disco de Micah P. Hinson, desta vez acompanhado no título pola Red Empire Orchestra. O nosso texano favorito é agora feliz junto à sua mulher e a vida sorri-lhe; isto nota-se na sua música mais nom tem por que ser algo mau: já nom nos sorprenderá como antes, mais polo de agora consegue manter o nível.
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Fóra de toda categoria está o disco de Crystal Castles. Nom se me ocorre mais que dizer que é umha obra sorprendente, impactante e refrescante, cujos sons parecem ter sido elaborados com máquinas “de marcianos” de salom recreativo. Escoitade a inicial “Untrust us” ou o éxito “Crimewave” e julgade por vós mesmos. Ao seu lado TV On The Radio parecem mesmo normais; claro que para eles o normal é seguir sacando discos como Dear science, que tenho pendente de escoitar em profundidade mais que apunta mui alto dende a primeira audiçom.
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Poucas incursões fixem no mundinho eletrônico, mais coido que as escolhim bem: London Zoo é um fantástico compéndio de música quente e bailável de agora mesmo (por muito que o queiram alcumar de dubstep, pouco tem a ver com propostas gélidas -se bem excelentes- como Burial: isto é mais dancehall de toda a vida). O seu autor, The Bug, é um velho conhecido da escena británica que reuniu muitas cartas ganhadoras e confeccionou este peassso vinilo que consegue dar continuidade aos logros alcançados por MIA em anos prévios. Nem a palavra eletrônica nem outras como trip hop servem já para descrever o que fam Portishead. Protagonistas de um dos retornos mais sonados dos últimos anos, com Third conseguírom de umha tacada o que parecia impossível: retomar o nível dos seus dous primeiros e fabulosos discos (publicados hai já mais de umha década), reinventar-se por completo... e seguir soando exactamente a Portishead. De expediente X.
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Tamém de expediente X é a capacidade que tem Nick Cave de encarnar o espírito do rock'n'roll canalha e selvage, afastado do papel de crooner adoptado em anos anteriores. O Dig, Lazarus, Dig! que sacou com os Bad Seeds é outra prova delo. A outros, por mais que me pese, nom lhes acontece o mesmo: e é que os meus queridos REM seguem que nem fu nem fa. Accelerate é a mostra de que conhecer a causa nom implica ser capaz de lhe por remédio: bom intento, chicos, de verdade que se nota e se agradece o esforço, mais... haverá que tentá-lo outra vez, pois este disco (que é melhor que o Reveal e o Around the Sun, certo) nom passa dum notável baixo e vós sodes capazes de muito mais. Outros ilustres veteranos acertárom algo mais, como de Jason Spaceman que com Songs in A&E nos trouxo de volta o evangélio Spiritualized com temas como “Sweet talk” (Rolling Stones circa 1969) ou “Soul on fire”. Por nom falar do nosso chamám favorito, Julian Cope, cultivador dumha espécie de paganismo anarquista à la Alan Moore que ainda alimenta a sua inspiraçom o suficiente para fazer discos como o generoso, em duraçom e inspiraçom, Black Sheep.
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Enfim, para nom deixar disco sem mencionar, aí estám o Attack & Release dos Black Keys (rock clássico setenteiro), o Saturdays = Youth de M83 (dream-pop oitenteiro), Rabbit habits de Man Man (estes inclassificáveis de Philadelphia ainda nom conseguírom igualar em disco a experiência dos seus diretos), The Bedlam in Goliath de The Mars Volta (outro disco que ganha ordes de magnitude ao vivo) ou o Cronolánea de Lori Meyers (quando se ponhem roqueiros quase poderiam lembrar a Los Enemigos... quase). Quentinhos, recém baixados, hai alguns com mui boa pinta: os de Walkmen (You & Me), Bowerbirds (Hymns for a dark horse), ou Jolie Holland (The living and the dead), por exemplo. Por nom falar de outros que estám ainda agardando, como os de Mogwai, Bloc Party, Oxford Collapse, Built to Spill, Okkervil River, Rokia Traoré... Ah, tantos discos e tam pouco tempo...
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segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Liquidámbar em Outono

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Mes a mes, o nosso amigo muda as suas cores... até ficar nu.
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